quarta-feira, 1 de abril de 2009

pirraça.

prólogo.

pê ih erre erre ah cedilha ah. era assim que me chamavam, sem qualquer justificava, no colégio.

- ei, pirraça, estão te chamando na coordenação.

não, o colégio não foi tão problemático assim. foi nele onde toda a historia de anti-heroína começou, mesmo que essa história sequer exista. nada era complicado naquele tempo, mas, acredite, nem tudo era simples.

nunca entre os mais populares, nem entre os excluídos. por sorte, escapei pela tangente durante todos esses anos (não que eu, de fato, tenha aprendido algo sobre tangentes). nunca tive um grupo de amigos, mas também nunca estive só. o jeito de difícil parecia atrair mais gente do que eu jamais esperara quando o adotei.

sim, o jeito, a atitude, foi adotado. é tudo moldado. e hoje já me pergunto: “quem não o faz?” todos moldam o que querem ser ou parecer. quero dizer, um surfista não nasceu surfando, ele escolheu aquilo como estilo de vida... ou de morte, dependendo da ocasião.

em meio ao apático uniforme do colégio a maioria das meninas escolhia destacar os peitos, sendo eles delas ou não. já os meninos preferiam os tênis, qualquer marca em que pequenas crianças do oriente são encarregadas de produzir. não que eu fosse muito diferente deles, mas peitos ou tênis realmente não eram muito minha praia. o meu jeito de destaque parecia ser outro. provavelmente, a cara de tédio e jeito de não ligar pra toda aquela, suposta, grande coisa.

prestava atenção nas aulas, sempre. por cerca de trinta minutos, no máximo. ao final do ano era sempre possível dar um jeito, estudar algumas madrugadas ou usar dos contatos que eu conquistava ao longo do ano. é, eu realmente os conquistava, não de um jeito manipulador, mas todos sempre paravam pra me escutar e talvez pra me seguir. algumas vezes acontecia sem intenção, de repente eu arranjava uma nova amiga, quase uma seguidora. em outras vezes, tudo tinha um “Q” de estratégia.

a piranha do colégio não era eu, também não era a líder de torcida que acaba com a vida dos outros, nem ninguém de destaque. levei esses anos sem qualquer desses papéis principal que envolva vários paqueras, namoros e, principalmente, escândalos. em relação a isso sempre fui calma. só em relação a isso, devo lembrar.

se existe uma virtude que eu, dona pirraça, nunca possuí, essa foi a calma. mãos frenéticas e constantemente suadas, olhos do tamanho de uma bila e sempre atentos a tudo (ou deveria dizer a todos?). eu não espero, não dou chance, muito menos penso duas vezes para agir. pra mim é tudo já foi ou, simplesmente, não foi. fim de papo e de paciência, na maioria das vezes.

quando o colégio acabou, eu fui só mais uma e quis que aquilo tudo voltasse. afinal, os anos no colégio não passam de uma longa brincadeira de esconde-esconde. você, podendo se esconder aonde quiser para não se mostrar aos outros ou escondendo-se de você para não ter que, enfim, descobrir quem realmente é. uma vez fora do colégio, o esconde-esconde acaba, as luzes se acendem e você tem que saber quem diabos é você e que porcaria você quer fazer.

em uma linha de raciocínio simples, escolhi o que as pessoas gostariam de ouvir de mim. faculdade. algo que, pelo menos, afastaria o temor que todos sempre tiveram. parecia que todos concordavam no meu destino de ser mais uma inútil no mundo.

é, eu fiz a escolha deles, mas não antes de fazer a minha. faculdade passada, faculdade adiada. eu, antes de qualquer pessoa, merecia um descanso. um ano livre.

foi nesse um ano que o dicionário ganhou um novo significado pra pirraça:


eu.

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meu texto-filhote, esse. tem continuações e provavelmente vai ter mais, mas tenho maior ciúme de colocar minha pirracinha aqui no blog. não, ela não pode ser exposta desse jeito. auhuehe ;D
e não, isso não é autobiografico. x.x"