sábado, 23 de outubro de 2010

você. por mais que o tempo seja curto e as coisas mais incertas do que certas, já não adianta mais evitar, manter algo assim tão verdade em segredo. perto de ti tenho sempre essa sensação de quem não dormiu e não acordou, flutuando numa fração de tempo em que não é hoje, nem amanhã. quando tudo se faz quieto escuto teus barulhos desconexos e sinto o teu corpo no meu, tudo tão pronunciado no nosso silêncio, e então, continuo eu aqui no meu dia sem horas, na minha noite de sol raiado. te olho e solto um "bom dia", sorrindo sincero como quem quer dizer
"eu amo você".

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

vivendo.

ah, meu caro amigo, venho te contar que a vida tem tentado me derrubar. meio assim devagarzinho, um empurrão ali, um tapinha por acolá. essa vida tem me colocado em mais filas de espera do que devia, em elevador quebrado, em pedra no meio da rua e nos diários ônibus atrasados, além de toda a complicação que já é cuidar dos outros participantes dela. mas veja bem, ela anda tentando e tentando, o que acontece é que ela não tá conseguindo. dentro de algum lugar, de uma profundeza até então desconhecida, eu estou resistindo. eu que sempre vegetei e virtualizei uma vida, estou ali vivendo, aguentando o sol quente do meio dia e sorrindo na cama a meia noite.

então, meu amigo, que já deve estar estranhando, te deixo mais incrédulo, hoje enquanto subia dez andares de escada, senti em meio ao extremo cansaço e a dificuldade de respirar uma vontade de viver, assim tão grande, que nem o magnetismo inerente de uma janela de vigésimo segundo andar me atraiu. está bem que agora assim, sentada e descansada, sei bem que era resultado de muita, muita, endorfina, mas é assim que é fácil notar como existem coisas para serem aproveitadas. mesmo que a vida goste de me botar com duas camisas num dia de quarenta graus e ainda tente me derrubar, eu continuo aqui. com calor e tentando me equilibrar, mas aqui.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

e eu queria que chegasse aqui com teu carro, vidros abertos e som ligado, viesse me buscar pra deixar essa insônia se perder na noite. desceria meio descabelada, desarrumada assim e íriamos pra qualquer barzinho mal frequentado. eu pediria uma cerveja, um copo de leite, coisa qualquer para beber, enquanto, tremendo, te falava mais uma vez como ela é linda, meu amigo. são sempre assim esses momentos de frio, incoerência ou embriaguez, sempre falo dela e pra ti.

e por mais que eu queira, que tu queira, tu não vens. é tarde. abraço a insonia e lembro que nem leite, nem cerveja bebo, escrevo palavras desconexas assim e deito novamente, esperando a visita de um fantasma, um desabamento no vizinho, uma batida entre os corredores da rua. espero o mundo parar ou o sono chegar.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

take the white pill.

vai, chega lá em frente à mesa e fala qualquer coisa assim como se tivesse sofrendo, mente, fala que tem insonia, tristeza, diz que não consegue acompanhar o mundo ao teu redor. ninguém consegue mesmo, não vai ser totalmente mentira. encara o doutor, treme as mãos, pede algo para beber, para aliviar a ansiedade. fala tudo isso temendo, sem muita coragem, sem muita certeza e então espera, espera ele te olhar e te julgar. te achar mais um representante da parcela doente da sociedade, só porque você sente ou finge. e espere então, sentindo ou fingindo, espera ele anotar na folhinha azul e te mostrar. o amarelinho dá animo, o rosa é para dormir e até o azul se ele te der, aceita de bom grado, menos sangue num membro e mais no outro quem sabe não dá uma boa trip.

pega tuas bolinhas coloridas, tuas pequenas porções doce-amargas de alegria e foge dali. para na primeira esquina, mistura tudo com muita vodka, cachaça mesmo até. mistura tudo e espera o mundo fazer sentido, as cores terem nuances e o tempo não existir. então sai dali, vai para casa, liga o som, pega um livro e bate um papo com teus autores preferidos. pergunta para aristóteles porque por mais saudável que seja permanecer sem vícios, ficar no meio do caminho entre medo e coragem, tudo é tão mais sem graça assim?! de pau duro, ouve o cazuza perguntar como pode alguém tão demente, porralouca e inconsequente amar e grita, grita do fundo dos teus pulmões que você ama e ama mesmo, sem amarras, sem limites e grita até acabar a voz, até o seu manuel bandeira te chamar calminho para montar em burro brabo, subir em pau-de-sebo e tomar banho de mar.

quando o mundo voltar a correr, o telefone tocar, o vizinho reclamar, volta para tua vida como quem nada quer, deita no tapete, abraça as pernas e fecha os olhos, fica ali contigo e só. eu sei que por mais horrivel que seja você sabe, sabe que tá sozinho porque teu mundo é mais que o dele, que tudo sai por uma tangente onde não se sabe o valor dos catetos. aprende, então, que o mundo é mais teu que dele também, que de alguma forma doentia voce foi escolhido para entender como funciona tudo e entenda, entenda bem que no em seu mundo, você tudo pode.