sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

manchas na lua.

poderia dizer muitas coisas, mas acredito, e quando digo acredito realmente o faço, pois não acredito-acho, acredito-confio, acredito que nessa noite de lua cheia o melhor, o que deixaria tudo mais pleno, seria permanecer em silêncio. aproveitando.

existe uma lua me olhando, me julgando quem sabe, são jorge contra um dragão lá, nós contra vários por aqui. dragões velhos que já perderam a inocência de ser carpa, de nadar contra a corrente. dragões que em si aceitam a maldade, a falsidade, a mentira e por crueldade, talvez, fazem questão de espalhá-la. e já diziam que os dragões não conhecem o paraíso, mesmo que voem, mesmo que alcancem, eles não podem entrar.. há muita vaidade, muito julgamento, muita ruindade. nem tudo que tem asa é anjo, por mais que se disfarce.

encontro dragões em toda esquina.
por mais que seja evitado, existe sempre o momento em que você também vira um, não necessariamente para sempre, mas somos todos um pouco loucos, um pouco ruins, um pouco pobres, depende apenas do relógio e do pulso, firme ou não.

uma vez, virei carpa para então virar dragão. senti a pele se fazer em escamas, fortes e sensíveis ao mesmo tempo, mas adaptáveis. ganhei rabo, nadadeiras e a correnteza que carregava meu corpo de pernas e braços já parecia mais fácil de se transpor, segui em frente, nadando. e quando cheguei aonde queria, depois de vários tempos nadando contra águas fortes que me batiam a face e penetravam boca e olhos, mas já não me faziam afogar, quando cheguei aonde a correnteza pára e tudo ao redor é novo e desconhecido, senti se sobressair da minha pele o que esperei que fossem meus braços e pernas de volta. não eram. eram garras, e de minhas costas asas, que cresciam e então de minha boca saiu fogo e eu tinha força. e com ela, fiz do todo o novo, todo o meu. me impus e não propus, ordenei, pois era um dragão. e então, caiu a noite e não adiantou quanto fogo saia por minhas narinas, foi frio e solitário.

frio e só, perdi garras, asas, fogo, ganhei pernas, braços e coração. porque quando sozinho, não se ouve mais tão forte o barulho da correnteza ou do novo mundo, você ouve um pulsar fraquinho, quase parando. um pulsar guerreiro que ainda fraco tenta expulsar tudo o que há de dragão. por mais que a determinação, a vontade de passar por cima da carpa seja incrível, o que vem depois, as garras, asas e fogo de dragão que vêm depois são o retrato da destruição. e toda carpa já é sim um pouco dragão e todo mundo é sim um pouco carpa. é uma questão de pulso.

nem nadando, nem voando se alcança o paraíso. talvez pulsando.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

é madrugada, eu não consigo dormir e tive vontade de te ligar, mas não acho mais tão justo sempre te contar dos meus romances fudidos e te fazer aguentar tudo isso. então, resolvi escrever essa carta, que a original nunca chegará a você. são um bando de letras pequenas espremidas atrás de uma folha de um calendário de junho de 2009. um bando de pequenas letras espremidas que, por mais que eu tente escrever outras coisas e assuntos, não cansam de juntar e transformar algumas letras na palavra que me causa toda a atual aflição.

escuto Abril enquanto escrevo, Abril e Esteban. tento bolar planos do que farei ao chegar na Minha Fortaleza que eu tanto gosto, não só na cidade, mas na fortaleza emocional também, onde tenho quem me aguente nessas péssimas noites como essa.

pensei por um segundo que deveria estar escrevendo para pessoas em especial, mas acho que é como minha música-vício, "pianinho", diz: "por mais que eu cante, escreva, toque.. não vai dar." sabe, as vezes tenho nojo das pessoas. mas tenho nojo de mim também por isso, nunca cheguei a verbalizar. quem sou eu pra julgar? eu sou só alguém com um eu-lírico insone que em madrugadas amargas encarna um caio f. fajuto que escreve cartas-para-não-serem-entregues.

só alguém que se apaixona, se entrega e morre um pouco todo dia, para toda noite saber que viveu pelo menos um pouco.

nada menos que saudade,

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

madrugada atracada.

- alô?


voz sussurrada no telefonema madrugueiro. coração arranca, incontáveis batidas por minuto, a gota de sangue do dedo mínimo já está na orelha. sorriso se abre e parece que não se fecha mais, empacou. ali, porto seguro não-tão-seguro assim. mas que tem uma bela vista, isso tem. porto lindo, com direito a farol e nenhum navio atracado. nem sempre vazio, mas não há nada ocupado por ali. ainda não.

o sol brilha, mesmo sendo noite de lua rasa, escondida nas nuvens recheadas de água. o vento sopra forte no quarto, enquanto as janelas estão fechadas. tudo tão natural, sincero, sem delongas. conversas bobas e tranquilas, nomes repetidos escritos na escrivaninha. cuidado com o braço, está apagando o número do telefone. meça palavras, não assuste, mas não censure seus movimentos, vá.

dias de pressa com pausas, para pensar, para falar, para ver. dias de pausas sem pressa, talvez no futuro. mel roubado de colmeias, girassóis colhidos no vizinho. nada mais errado do que estar sempre certo. animais ariscos, arriscando. um risco, uma tentativa e então, quem sabe, baixamos as âncoras e ficamos por aqui, pelo píer.


- alô.