quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

amor inteiro.

isso é meio errado, meio fudido, meio torto, meio dúvida, meio sério, meio felicidade, meio sem sentido, meio com objetivo, meio interessante, meio interesseiro, meio talvez, meio completo, meio atravessado, meio doído, meio certeza, meio leve, meio uma coisa, meio outra coisa, meio decidido, meio confuso, meio chororô, meio indo, meio já sendo, meio comprometimento, meio metade, meio um quarto, meio entregue, meio coração, meio pulmão, meio fígado, meio eu, meio você. amor inteiro.

sábado, 19 de dezembro de 2009

e eu trago você que nem a um cigarro, trago você para perto e guardo toda a fumaça em mim. deixo ela deteriorar fígado, rim, pulmão, coração. deixo ela tomar lugar, até que, em mim, só fumaça haja. e assim, ela se transforme em coração, pulmão, rim, fígado e pulse e respire por mim, em mim.. sabendo que, no final, dentro de mim só haverá você.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

as vezes, quem sente muito por dentro, sente saudade de sentir por fora. as vezes um banho gelado no escuro basta para que todos os músculos tremam e você tente controlar o seu corpo e sinta. as vezes.. não.
-ei, me deixa! sai daqui! vai atrás daquelas meninas que mais cedo vieram atrás de ti. vai!
ela dizia, balbuciando as palavras, naquele tom específico de quem está bêbado e entediado. olhando-a, dominado de raiva, eu ainda consegui achá-la uma das coisas mais lindas do planeta. incrível isso, eu sendo um bobo, até quando ela me insulta.

continuo segurando minha cerveja, olhando os olhos dela. cabelo bagunçado, grudado no rosto adentrando a boca, maquiagem borrada, algumas lágrimas, ela continua gritando disparates enquanto tento tranquiliza-la, sem sucesso. existe um ponto em que eu desisto, sempre existe. desisto e viro as costas, saio andando, ela não quer minha ajuda.

saio andando por aquelas ruas de sempre, de sábados. mão dadas, sorrisos, beijos, duas pessoas sendo uma, várias pessoas sendo ninguém. e eu, aqui, com o coração na mão, na sua mão. e, da mesma forma que sempre desisto, volto atrás. não tenho problema nisso, nem nunca tive. volto atrás e corro, passo por seguranças e entro no inferninho que erroneamente te deixei. te apanho pelo braço, te levanto e sorrio, para ti.

não me importa se você tinha razão ou se era que tinha. não importa que você se descontrole, que você seja assim, meio louca. o que importa é que eu sou paciente, bobo e que sempre volto atrás. atrás por você e por mim. para nós. para te ajudar, para me ajudar.

domingo, 13 de dezembro de 2009

"e não parecia bicha nem nada: apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o meu, que por acaso era de homem também. eu estendi a mão aberta, passei no rosto dele, falei qualquer coisa. o quê, perguntou. você é gostoso, eu disse. eu era apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o dele, que por acaso era de homem também."

- terça-feira gorda, caio f.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

tempo.

olhava para baixo, não era timidez. era mesmo falta de vontade, já não acreditava e procurava não esperar. não esperava mais o encontro, o reconhecimento de olhares, quando duas almas não podem mais ficar paradas, ou separadas. quando elas tem que, indubitavelmente, se juntar, numa noite sem lua, num dia de sol quente

apressada, deixava as braços passearem soltos ao lado do corpo. não era tensa, mal amada ou abandonada, incrédula, talvez. mas nunca, em qualquer hipótese, insensível. sentiu um puxão, na mão direita. voltou-se a quem que fosse, cara feia, "será que não sabem que as pessoas podem estar atrasadas?!" ela pensou, mesmo que não estivesse.

virou o corpo duzentos e setenta graus, o suficiente para reconhecer o outro a que pertencia a mão que segurava a dela. as roupas eram diferentes, o cavanhaque havia se transformado em vasta barba. o corpo, ah, o mesmo ainda. magro e musculoso, ombros largos e peitoral perfeito. o olho verde escuro, esmeralda suja.

sorrisos, abraços, nenhuma palavra. nervosismo. "você.." começaram ao mesmo tempo, pretendiam dizer um ao outro como estavam bem. era muito, foi muito, eles foram muito. olharam-se por mais algum tempo, ele tomou-lhe o rosto com as mãos, ela virou o rosto, num sorriso envergonhado. "você está ótima, linda.", ela permaneceu em silencio. "te vi andando, tive que falar. já faz tanto tempo..", ela reparava nos olhos de esmeralda suja, parecia imunda, sem qualquer resquício de brilho. e já fazia, tanto tempo. bom tempo, mau tempo. vento ou sol. talvez e provavelmente, foi só por todo esse histórico que ela aceitou o convite dele de ir tomar uma cerveja, conversar um pouco. o sorriso dele, ainda brilhava e as mãos ainda encostavam nas suas com a mesma leveza.

na primeira cerveja, lembraram de como se conheceram, de como os olhos esmeralda se encontram com os castanho-claro normais dela. de como as almas gritaram, dentro de cada um, pedindo para não mais ficarem sós. de como, ainda jovens e perdidos, eles atenderam aos pedidos das almas como se elas fossem rainhas, e juntos, se fizeram servos.

na segunda cerveja, os dois se calaram. pensavam a mesma coisa, sabiam que sim. as noites, as manhãs e as tardinhas em que o peito dele roçava os seios dela, as mãos corriam os corpos e as respirações alcançavam os pescoços. ele levou a mão ao pescoço e lembrou-se de como ela sempre o mordia, ali. ela lembrou-se de como ele sempre dizia 'eu te amo' e sorria.

tentaram conversas casuais, família, notícias, foi quando a quinta, e última, cerveja chegou à mesa e ambos deixaram cair os olhares, concentraram-se nas respectivas mãos. olharam-se tristemente quando veio a mente o fim. o fim deles. as constantes brigas,as inconstantes decisões, o amor violento, querer de mais, querer de menos. seguir em frente, voltar. desistir. eles resolveram, então, por sacrificar um amor errado, doente, meio estrebuchado, como se faz a um animal. sacrificaram e saíram para rua, perderam os telefones, não trocaram cartas. o tempo passaria e levaria consigo o pó.

eles tocaram as pontas dos dedos, os olhos esmeralda-imunda encontraram uns olhos, agora, castanho-escuro. silêncio, as almas não gritaram. veio a mente a viagem deles ao interior, quando longes do mundo, eram inteiros e completos, eram um só animal sadio. ela pôde, novamente, se ver dizendo que estava tão feliz que parecia estar bêbada. não esperava ela que o tempo tivesse passado, os corações endurecido, os olhos escurecido e curado, curado não um, mas dois animais. olhando para frente, alma silenciada. mesmo que perto dele, ela estava apenas..
bêbada.
me olhe, chegue perto, encoste. me sinta, cutuque, verifique se sou real. me beije, me abrace.
me diga: o que posso fazer por você? quer que eu te toque? eu te toco, meu bem.

toco o rosto e me aproximo. invado o seu corpo com os olhos e te sinto fazer o mesmo. te puxo para mim, você agradece, sem saber que fiz por mim, por puro egoísmo. no abraço, nossas almas vadias se encontram e por breves segundos viram uma coisa só, disforme e unitária. quando nossos corpos se separam, elas choram. chegam a encher de lágrimas o vazio dos nossos interiores, as costas cedem e os corações são apertados entre carne e água salgada.

os olhos mostram e mentem. não há conforto. eu não vou voltar e sei disso. você vai voltar, mas ainda não sabe. só saberá quando naquela tarde de sol poente encontrar um alguém com meu sorriso e entrar no primeiro trem que, eventualmente, será o certo para que você perceba que já faz muito tempo, que eu já não estou mais ali e que você, na verdade, só agora sairá.

sábado, 5 de dezembro de 2009

lost inside.

embaixo da cama, na mochila, atrás da televisão, no rodapé. embrenhava-se por cada pequeno compartimento, cada minúsculo cômodo, procurando. procurava mais alguma coisa, como sempre. não prestava atenção quando guardou, não tinha a menor idéia onde agora estava. e então pensou "ah, é só um isqueiro. eu compro outro."

ela ligava para ele, chamava para uma nova boate. ele o ligava e convidava para um jantar. sua mãe o ligou, semanas atrás, para avisar que o velho cachorro da família havia morrido. não atendia os telefonemas, não retornava. deixava as cartas de lado e os recados da secretária eletrônica era apagados sem serem ouvidos. e numa tarde qualquer, quando o sol entrava na janela encontrando a madeira e liberando aquele cheiro de saudade, ele sentiu. pegou o telefone, pensou em algumas pessoas, mas já não sabia seus números. procurou na lista, não achou ninguém. em cima da escrivaninha tinha o telefone da mãe anotado, chamou, chamou, chamou. uma voz estranha atendeu, quando perguntou pela mãe soube apenas que há muito ela havia mudado de casa e telefone. e então pensou "ah, são só pessoas. saio hoje e encontro alguém novo pra conversar."

já era madrugada, um dia normal tinha acontecido. sentiu um aperto grande no coração. levou a mão ao peito, assustou-se. não havia batimento ali. foi mais para direita, nada. mais para a esquerda, nada. onde estava seu coração? apalpou a barriga, os estomago, buscou pulsação na veia do pescoço. partiu pras pernas, pros braços, até os pés. não achava, não estava ali, havia perdido. e então pensou "ah."

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

ouroboros.




era por volta de seis horas, chegava em casa. comia um sanduíche, nada muito pesado, ia ao banho. a água quente corria-lhe os cachos do cabelo não-tão-pequeno e ainda-não-grande. fazia hora no espelho, caretas e sorrisos. vestia a mais confortável das roupas. fazia tudo, enquanto pensava. e, ainda pensando, sentava-se na cadeira e puxava para si a máquina de escrever, e escrevia.

escrevia, pois o coração era grande e a alma curta. curta de um modo que nunca, jamais, caberia a sua vastidão. não chegava a ter um metro e oitenta de corpo, mas o que tinha de pensamentos, sentimentos e, também, dores excedia o corpo, a alma e, por vezes, excedia os limites de um coração gigante, de quem ainda sorri.

havia passado a tarde de trabalho pensando. não, ele não perdeu sequer um ponto de produtividade por isso. um dia, se parasse de pensar, seria a certeza do fim. pensava, pensava, pensava e escrevia. era isso, sempre fora. para ele, era assim. um dia inteiro com pensamentos pela cabeça, chegar em casa e escrever e resolver e encontrar as respostas do problema.

pensava na existência de ciclos. a vida em si, um círculo. muda a frequência, talvez a velocidade. nos maiores, mudam as pessoas. nos menores, mudam os lugares. existem ciclos básicos, gente nascendo-gente morrendo, pessoas indo-pessoas voltando. e existem os ciclos específicos, ele se aproximando-ela se afastando, ele se aproximando-ela se afastando. repetidos inumeras vezes, ao redor do mundo, da existência humana e, por que não dizer, nos dias que passam.

as costas já doíam da posição para alcançar a máquina, os dedos já não respondiam com tamanha rapidez e os erros ortográficos tornaram-se mais constantes. estava como se sentia em todo fim de noite, livre. de todo o peso, de toda a dificuldade intrínseca na mais cíclica coisa que nós, humanos, podemos fazer, sentir.

tirou a folha, dobrou ao meio, colocou na gaveta já quase cheia. ia dormir, amanhã acordaria cedo para trabalhar e pensar. voltaria as seis para casa, comeria alguma coisa, tomaria banho, sempre quente. sentaria na mesma cadeira e puxaria para si a máquina de escrever, escreveria sobre sentimentos, pensamentos e, também, dores. fazendo, assim, do começo o fim. do ciclo.



*ouroboros: a imagem da serpente mordendo a cauda, fechando-se sobre o próprio ciclo, evoca a roda da existência.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Eu queria ver no escuro do mundo
Onde está tudo o que você quer
Pra me transformar no que te agrada
No que me faça ver
Quais são as cores e as coisas
Pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?
Às vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo
Que não me deixa em paz
Quais são as cores e as coisas
Pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?
Às vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo
Que não me deixa em paz
Quais são as cores e as coisas
Pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

perto do fogo.

ele escreve esta carta. esta, de bordas milimetricamente queimadas por um isqueiro bic qualquer, afanado de um parente aleatório que aparece para o almoço de domingo. as bordas já queimadas e a folha amassada o encaram, move o lápis entre os dedos, ele sabe que deve escrever de lápis. de lápis, pra um dia ela encontrar a carta de bordas milimetricamente queimadas e papel amarelado e só ver poucas palavras ainda escritas, "amor", "felicidade", "eterno". ele riscaria as palavras escolhidas mais forte, sabe que elas ficam. e elas ficam, as palavras. ficam-se as palavras e vão-se os significados. é disso que ele não sabe, ele não sabe que já não há amor que não se apague como grafite, não há felicidade que não se amarele como papel e que não, nem o eterno é eterno. talvez, não existir seja eterno. pois eterno não, não existe.

move o lápis entre os dedos, ainda, o rapaz. os dedos alcançam as têmporas, ele pensa. quem tem que pensar para escrever uma carta de amor? ele pensa. quem sabe já não seja uma carta de amor, seja uma carta descarrego, talvez. uma carta de sentir demais, uma carta de algum sentimento-quem-sabe-até-melhor-que-o-amor. reflete sobre frases, "meu amor queima por você", ele ri e, sem perceber, fala alto: - que brega! e é disso que ele nem sabe, o amor é brega, não é eterno e pode sim, não ser necessariamente o melhor sentimento a se sentir.

a casa toda escura, os carros passam pouco pela rua consumida pela madrugada. ele tem medo. de não conseguir escrever, de não conseguir se expressar, de escrever baboseiras, de escrever e reler e acabar por queimar não só as pontas, mas a carta inteira. e se? e se não fosse amor, e se ela tivesse transando com um cara qualquer nessa exata madrugada, e se naquela manhã ela não tivesse ido a praia, e se? qual seria o destino dessa carta, de amor ou não, que parece não querer ser escrita? e se fosse amor, qual seria a explicação? um mês e meio de ver pôr-do-sol juntos, de completar letras de chico buarque, um mês e meio de corpos quentes se encontrando em noites solitárias. e se ele fosse só mais um romântico, e se ela fosse só mais uma mulher independente que não precisa de ninguém. e se? ele tinha medo.

por que ele mantinha todo esse medo? não sabia. talvez pela dúvida, de amor ou não. pensou então, que não sendo amor, não haveria medo. e parou aí, para lembrar do que mais lhe dava medo, pessoas mortas, altura, acidentes de carro, in-cên-dios, pensou assim, sílaba por sílaba. cabeça de lado, olhar fixo na janela, percebeu ali que era brega e amedrontador, o amor. o sol começava a aparecer, a carta branca apresentava, em seu papel, algumas manchas de suor, mãos nervosas. seria o amor bom, seria ruim? seria real, seria um bonde só de ida? passava os dedos no papel e queria dizer não. não ao amor, ao medo, à impotência de ter, em mãos, uma carta de bordas milimetricamente queimadas e não conseguir escrever. seria importante colocar no papel o que o olhar dela faz ele sentir? seria isso, o amor? ou seria aquilo? o amor?

o sol já lhe batia o rosto de tal forma a fazer-lhe contrair os olhos. resolveu fecha-los. em uma noite onde ia escrever sobre amor, acabou-se numa dúvida a respeito de sua existência. da existência própria também. por que, se não para isso, pra que vivem as pessoas? ele sempre disse que fechar os olhos para raciocinar melhor funcionava. e funcionou, dessa vez. não para achar a resposta do dilema, não para saber o que escrever na carta, não para conhecer mais sobre amor. funcionou para que assim que as pálpebras se acomodassem sobre o conjunto pupila-íris-e-qualquer-coisa-mais, ele a visse. ela, a destinatária da carta de amor ou não.

foi vendo-a, enquanto estava de olhos fechados, numa noite epifanica que virara manhã, que percebeu. ele já não se importava se fosse amor, e que não tivesse medo. que tivesse medo, e que não fosse amor. podia ser algo qualquer. era inegável, ele sentia ela, nele.


"O cheiro dele era tão bom nas mãos dela quando ela ia deitar, sem ele. O cheiro dela era tão bom nas mãos dele quando ele ia deitar, sem ela. O corpo dela se amoldava tão bem ao dele, quando dançavam. Ele gos­tava quando ela passava óleo nas suas costas. Ela gosta­va quando, depois de muito tempo calada, ele pegava no seu queixo perguntando ― o que foi, guria? Ele gos­tava quando ela dizia sabe, nunca tive um papo com outro cara assim que nem tenho com você. Ela gostava quando ele dizia gozado, você parece uma pessoa que eu conheço há muito tempo. E de quando ele falava calma, você tá tensa, vem cá, e a abraçava e a fazia dei­tar a cabeça no ombro dele para olhar longe, no hori­zonte do mar, até que tudo passasse, e tudo passava assim desse jeito. Ele gostava tanto quando ela passava as mãos nos cabelos da nuca dele, aqueles meio crespos, e dizia bobo, você não passa de um menino bobo.

Como nas outras noites, ele a deixou na porta do bangalô 19, quase cinco da manhã, pela última vez. Mas diferente das outras noites, ela o convidou para entrar. Ele entrou. Tão áspero lá dentro, embora cinco estrelas, igual ao dele. Ele não sabia o que fazer, então ficou parado perto da porta enquanto ela abria a janela para que entrasse aquela brisa morna do mar. Ela parecia de repente muito segura. Ela apertou um botão e, de um gravador, começou a sair a voz de Nara Leão cantando These Foolishing Things: coisas-assim-me-lembram-você. Ela veio meio balançando ao som do violão e convidou-o para dançar, um pouco mais. Ele aceitou, só um pou­quinho. Ele fechou os olhos, ela fechou os olhos. Ficaram rodando, olhos fechados. Muito tempo, rodando ali sem parar. Ele disse:

― Eu não vou me esquecer de você. Ela disse:

― Nem eu.

Ele afastou-a um pouco, para vê-la melhor. Ela sacu­diu os cabelos, olhou bem nos olhos dele. Uma espécie de embriaguez. Não só espécie, tanta vodca com abaca­xi. Eles pararam de dançar. Nara Leão continuava cantan­do. A luz da lua entrava pela janela. Aquela brisa morna, que não teriam mais no dia seguinte. Ele a viu melhor, então: uma mulher um pouco magra demais, um tanto tensa, cheia de idéias, não muito nova ― mas tão doce. As duas mãos apoiadas nos ombros dele, assim afastan­do os cabelos, no mesmo momento ela o viu melhor: um homem não muito alto, ar confuso, certa barriga, não muito novo ― mas tão doce. Que grande cilada, pensa­ram. Ficaram se olhando assim, quase de manhã.

Ela não suportou olhar tanto tempo. Virou de cos­tas, debruçou-se na janela, feito filme: Doris Day, casta porém ousada. Então ele veio por trás: Cary Grant, gran­dalhão porém mansinho. Tocou-a devagar no ombro nu moreno dourado sob o vestido decotado, e disse:

― Sabe, eu pensei tanto. Eu acho que. Ela se voltou de repente. E disse:

― Eu também. Eu acho que.

Ficaram se olhando. Completamente dourados, olhos úmidos. Seria a brisa? Verão pleno solto lá fora. Bem perto dela, ele perguntou:

― O quê? Ela disse:

― Sim.

Puxou-o pela cintura, ainda mais perto. Ele disse:

― Você parece mel. Ela disse:

― E você, um girassol.

Estenderam as mãos um para o outro. No gesto exato de quem vai colher um fruto completamente maduro."


caio f. - mel e girassóis.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

o frio passava pelas frestas da janela de madeira. alcançava a de vidro e entrava no quarto. os pêlos da nuca eriçavam-se junto com o vento. essa era a tardinha chegando.

o resto de sol que ainda fazia alcançava as janelas de madeira. elas soltavam aquele cheiro que ainda me lembro. aquele cheiro de saudade.

era só mais um quarto de hotel. normal, normal. a vista era para o centro de tudo aquilo. uma igreja amarela e uma praça. milhares de pessoas passavam por ali. vez por outra até uma espécie de bonde passava por ali.



*------*~



sexta-feira, 20 de novembro de 2009

do me a fucking favour!

Do me a favour, and break my nose!
Do me a favour, and tell me to go away!
Do me a favour, and stop asking questions!
e a única coisa que me vem a mente é a impossobilidade de pensar.
cabeça lateja enquanto todo o resto está parado, mobilidade imóvel.
um músculo na perna pulsa. só. só ele.

não sei o que acontece. não sei o que fazer, falar, sentir.
a cabeça pára de tentar e dá espaço ao corpo.


é, alguns acham que o corpo é a melhor parte mesmo.




ps: queria poder escrever todas os romances, as poesias e as frases soltas que circulam incessantemente em minha alma, e mente. (minto?!)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

insomniac.

seria tão interessante se eu, logo eu, não fosse reparar que o post passado aconteceu as 21:21.
e que, é ele tá pra desistir.




irmãos, gadú, cañas e buarque, cês bem que podiam me ajudar, não?
e um coração que insiste em bater.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

um dia largo o saudosismo, a nostalgia e a melancolia e percebo, de vez, que os tempos mudaram. e algumas coisas que eram minhas foram ficando pelo caminho.

talvez escreva um samba, inspirado em chico, talvez. um tango, quem sabe?! para caber no choro do violiono os prantos de outrora. um canto em italiano como nos filmes da máfia, com tiros por entre os versos e morte entre as estrófes. um poema romancista, meio irreal e sem razão. um romance, para esquecer, daqueles bem naturalistas. e por quê não uma musica com metais ali por trás, meio assim como faziam aqueles irmãos?!

ah, farei! de algum modo que não sei ainda, mas farei! corro contra o vento, mudo o endereço, esqueço meu nome, perco os telefones.. mas faço, ah, se não faço!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

carta para além do ano.

são quase doze meses. de uma vida que antes não me pertencia, estava longe e não era desejada. pessoas, pessoas e mais pessoas. algumas tão cheias de significados, outras mais vis impossível. tantos novos sorrisos, novos olhares, novas maneiras de lidar. andanças por ruas nunca antes visitadas, escritos melancólicos como nunca. descoberta brilhante.

encontrei e perdi tesouros, achei pessoas em lugares inóspitos de mim, perdi tempos irrebomináveis. tinha de estudar e não o fiz. tinha de me dedicar e não o fiz. não tinha que me deixar levar, mas, muitas vezes, o fiz. aprendi, então.

o calor de dezembro já se aproxima da cidade, e com ela me vem o sentimento de fim. fim de dois mil e nove, fim de ser oficialmente criança, fim do ensino médio, fim de tanta coisa.. e, quem me dera fossem "fim ponto final, acabou o texto", mas são todos "fim ponto final, outro paragráfo". é, dois mil e dez vai ter de ser um ano criativo, tenho parágrafos e mais parágrafos para construir em mais outros doze meses.

se tivesse alguem para agradecer por todo o ano, já começaria fazendo-o. foi um ótimo, ótimo ano. não em comparação com nenhum outro, não gosto disso.. mas por ele mesmo, por toda a carga de aprendizado, por todas as figuras que me rodearam, pela família e pelo amor.

que venha o seguinte, que eu tenha força.
que seja doce.


livia f.

ps: amanhã é minha última aula obrigatória no colégio. como faz?!

sábado, 10 de outubro de 2009

what the..?

hoje eu ouvi uma musica que não significava nada pra mim, é linda a musica e pans.. mas não significa nada, não pra mim. só que ela me fez perceber como as coisas são grandes, como as coisas duram e que.. a gente, nós, pessoinhas, somos só uma coisa minuscula no mundo. no mundo mesmo-mesmo de arranhas céus e poluição, e no mundo de sentir, de relação entre pessoas.


tou nonsense hoje.
vi grey's e não chorei, dois episodios seguidos já que eu não choro. tenso isso.



"my kingdom for a kiss upon her shoulder.." lalala (8)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e suspiro,
de palavra indireta, aviso na esquina.
Tempo de cinco sentidos num só.
(Carlos Drummond de Andrade)


queria sentir.

sábado, 3 de outubro de 2009

eu queria mais uma vez dizer 'eu não sei o que fazer.' e te ter pra me tranquilizar e falar o que deve ser feito.


odeio dormir cedinho, acordar de madrugada e ficar sentimental.

domingo, 27 de setembro de 2009

27.03

seis meses atrás, mais ou menos por esse horário. no outro lado da cidade, acontecia uma coisa assim, linda. era confirmada uma dúvida, uma certeza era formada.. e em seis meses, desse lado da cidade, nada mais acontecia. tudo havia sido despedaçado.
mea culpa, talvez.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

carta para ele.

amor,

escrevo-te esta carta, assim sem mais nem menos, sem razão nem por que. por tudo o que a gente passou e ainda vai passar. os dias escuros, as noites claras. o amor, aquele que tem que ser citado logo no começo, aquele que apertou o "start" e transformou "eu e você", em "a gente".

eu que era simples e singular. quando te encontrei, virei composta e plural. e eu que tanto me incomodava em ser diferente, nem me afetei de ser mais um peixinho nadando com a corrente, mais uma menininha apaixonada que escreve e suspira.

e foi tanto que eu suspirei por ti, ainda suspiro. te vejo pela manhã, cabelo desgrenhado e sorriso preguiçoso, minhas pernas ainda tremem, minhas mãos suam. abraço meu próprio corpo que está com teu cheiro, numa tentativa meio falha de te ter por toda a minha pele. o 'bom dia' com olhos brilhantes me lembra de todos os dias, a voz lenta de quem acaba de acordar lembra me todas as noites. ali, juntinhos no aconchego que só nossos próprios corpos poderiam proporcionar, ali, quando nós somos partes de um todo.

te vejo no nosso lugar, vendo um filme no sofá, sujando a minha cozinha, levando o lixo para fora, jogando videogame. eu que só peço que você me ame, ganho tão mais que isso. as vezes chego a duvidar se é realidade, se eu te tenho mesmo, se vou continuar tendo. que bom que não gasto muito tempo questionando isso. e se gastasse, descobriria um lugar vazio, sem sorrisos, sem olhares, sem amor, aqui.. dentro de mim.

me responde, não me engana dessa vez. em quanto tempo você vai chegar?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

é.

ela arruma a cama, eu continuo deitado no sofá. ela passa por mim, alisa meus cabelos, ajeita o cobertor. pega a chave do carro, da casa. apaga a luz, destranca a porta. ela sai, eu vejo os calcanhares indo. torço pra que ela tenha esquecido alguma coisa, encontro a janela aberta e em um assopro o vento entra, levanta o perfume dela por todos os comodos e leva embora.
comprovando o perfeito metodismo. é, ela não esqueceu nada.

sábado, 5 de setembro de 2009

agradável escuro.

no mesmo túnel iluminado que outrora caminhei, estou. vendo o piscar das luzes que ameaçam se apagar, esperando o passar de carros que não vão chegar. ando no caminho que não tem mais ninguém, nem final.



tudo vazio, luzes amarelas, o espaço é grande, mas a claustrofobia é inerente. a saída existe, eu sei, mas depender de alguém para isso pode torná-la um processo infindável, talvez inexistente.



ainda tenho na memória como tudo acontece. como as luzes se apagam e ali, no fim escuro, aparece uma só luz, um reflexo. viver por essa luz, continuar seguindo, andando, precisando. sentir-se capaz de libertar de si, só para encontrar a luz.



lembro os dias de olhos fechados, as luzes já acesas e a busca pela abertura iluminada que já se fechara. correr e cair. acordar num mesmo lugar de sempre. ter-me, de novo, no mesmo túnel vazio, sozinha e acompanhada por mim.



demorei a aprender a viver no escuro e, agora no claro, as pupilas ainda dilatadas vêm tudo fora de lugar, errado e sem razão.



sem saber bem o que sentir, sinceramente sem entender.. vou indo, indo e indo. sigo no túnel iluminado de sempre, contemplando o vazio, esperando os sons, os carros, as pessoas. esperando e lembrando o agradável escuro.





domingo, 30 de agosto de 2009

blogando.

final de semana importante, de resgates, de decisões. pensar e pensar, esse foi o objetivo dos últimos 4 dias. e deu certo.
tomei decisões que espero cumprir, mesmo sabendo que, para mim, isso é difícil.
pensei em querer, querer coisas de verdade, de verdade mesmo. de querer e fazer coisas como quem vai fazer 18 anos ali em dezembro, coisa de gente grande. :D
então, então.. escrevo pra me lembrar das decisões todos os dias que olhar isso aqui, acho que talvez assim funcione melhor.
-contar
-estudar
-desligar
são algumas das decisões. e e e é.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

tarde e só.

quis te ligar.
no dia errado,
que parecia o certo.

falar com aquela voz,
assim, meio boba que
eu só uso com você.

entregar,
jogar meu corpo nos teus braços,
contar uma besteira,
bobagem qualquer que me deixou chateada,
e ver você aparecer com algo
algo que aconteceu com você
e que você, como sempre, reagiu tão bem.

me sentir minúscula e
incomparavelmente orgulhosa, de você.
e de mim, por te ter..
por ter te tido, talvez.

quis te ligar
e sentir os dias de 212,
quis te ligar e..
sentir a mim, de novo.

eu quis te ligar.
mas não o fiz, eu tive medo,
medo de não te encontrar.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

ainda não é passado.

o perfume que invade o cérebro. esteriliza de outros, estabiliza no mundo. as mãos que suam, o olhar discreto ao espelho.
-será que tá tudo certinho?
em todo o caminho, a musica lhe bate na cabeça, seja aquele caminho pelo sol ou aquele do comecinho, de carro, até.

sorrisos, abraços, olhares e tentativas de aproximação, todas guardadas naquele ritmo. aquele assim, feliz. as mão nervosas que antes tremiam, estão paradas naquele lugar que julgam ser delas. os dentes encontram a pele de um jeito que só se faz ali e só.
é carinho e ainda não é passado.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

e se cair de um abismo pensando em como será o encontro ao chão faz perder todo o prazer de estar no ar. qual o intuito disso tudo?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

finding livia.

quando você se pergunta onde está você, isso é um provável problema, não? onde foi parar o seu eu? entre esquinas erradas e tropeções em buracos certos? em noites e manhãs regadas a alcool e alucinógenos? entre a boca ou as pernas de alguém? na sola de sapatos gastos? numa ponta de cigarro acesa no meio da rua?

o brilho do sol, o verde das árvores, a rapidez dos veículos. eles também se foram, será que junto comigo? em câmara lenta tudo se move, continua se movendo, sem cores e sem brilho, deixando-me distante de qualquer coisa que possa entrar, que me faça sentir.

ando, corro.. entro e saio. procurando por mim em algum pequeno lugar. no rodapé da parede, atrás da comoda? o pior é que não. onde será que os carros vão chegar com tão pouca velocidade? onde o brilho fosco do sol reflete? onde estão nascendo as árvores? será que eu estou ali? me esperando, me vendo chegar? eu não sei como, eu não sei se vai acontecer, mas eu prefiro pensar que sim, elas estão ali e eu tou chegando.

hurry up, but stay calm.

sábado, 15 de agosto de 2009

física pura. ondas de som, altas e forte.
propagando-se no vácuo que hoje sou eu. as palavras que entravam, e saiam. os sorrisos que só enxergava, os beijos. interação entre pessoas.
tudo dificil de se entender quando lhe falta um pedaço que é pequeno e grande ao mesmo tempo. um pedaço meu, tão seu.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Today's fortune: Nobody can go back and start a new beginning, but anyone can start today and make a new ending.

for sure?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

se eu não amasse tantas coisas e tão poucas pessoas, não sei o que seria de mim.

fim de tarde, por do sol maravilhoso, linda lua cheia. corpo vazio. mente flutuante.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

não foi.

distancia. e ela não existe de coisas que não aconteceram, não existe distancia de fatos que não são fatos. não existe sequer de fatos que são fatos. e tanta coisa ficou por acontecer, cada momento incrível que não foi oportunidade de fotografia.

as noites sem estrelas pela rua, as com estrelas pelo quarto. a lua que iluminaria qualquer lugar, a lua que não seria visível em lugar algum. o sol que nunca chegou a nascer, até aquele que nunca chegou a se por. as areias que não conheceram os pés, os lençóis que não conheceram os corpos. as luzes piscantes que não fizeram dançar, os líquidos alcoólicos que não deixaram tontos. as cadeiras que não foram afundadas, as coxas que não foram tocadas. e todos os outros fatos que não são fatos, tudo que poderia ser.. mas que por algum motivo, bom ou ruim, do destino ou não, da sorte ou do azar, não foi. e tanta coisa ficou por acontecer.

terça-feira, 28 de julho de 2009

fang tales.

quero você do jeito mais possessivo de quem alguém pode querer outro alguém. ou talvez mais.

venho tentando me controlar, é pra onde vai minha força, toda ela. ando suspirando, respiração inconstante, o corpo ameaça desfalecer, os joelhos não aguentam mais. cansado, estou.

controlar uma bestialiadade inerente parece fácil, apenas quando você não é a besta.

domingo, 19 de julho de 2009

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.
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- ah. *último suspiro*

terça-feira, 14 de julho de 2009

não, não, não.

e numa terça feira a noite, em um banho apressado. ele nota, percebe, se toca, e não, não entende. prepara-se para esmurrar a parede, recua a tempo. "não, não, não.." tenta imaginar a palavra estampada na mente para que ela tome o lugar das coisas que estava imaginando.

ele viu eles sendo 'pra sempre', mudando por ela e ela por ele. ele viu eles dois se casando. na praia, com direito a uma festa depois pra todos os amigos deles. a lua de mel na frança, onde ela tomaria café e ele passaria horas observando a cena sem a necessidade de dizer uma palavra. a casa com cortinas em todas as janelas, onde sem camisa ele andaria livremente e ela brigaria pela bagunça nos cômodos.

e então, notou que a distancia que separava tudo aquilo da realidade antes era o tempo. e agora já era mais. e pra ele, por mais que fosse racionalizável, aquilo tava tudo errado. eles se gostavam e como aquilo tudo tava acontecendo?!"não, não, não.." ele pensava paralisado sem saber como explicar aquilo tudo.

-mas ele até que sabia.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

e bate
e bate
e bate
e cansa. cansa as pernas, os braços, a mente. cansa o corpo todinho. e eu ainda invento de ir andar cinco quarteirões grandes.

andar cinco quarteirões para encontrar a minha mais verdadeira definição de paz e segurança pra minha mente não pareceram nada, mas agora, pro meu corpo pareceram dez quarteirões. ah! mas foi tão incrivelmente bom, encontrar lá, no mesmo lugar de sempre, na santos dumont, número 6911.. meu prédio creme com listras vermelhas. meu, meu, meu, meu star city 2.

apesar d'eu ter perdido o prestígio por lá, ainda é naquele prédio que um dia foi meu, que mora uma meia dúzia de quatro pessoas importantíssimas. e eu senti, no ar da nostalgia o quanto estar ali vale pra mim. ouro.

é. hoje eu encontrei paz e segurança, por toda uma semana que brinquei de corda bamba.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

fogo e gelo.

"alguns dizem que o mundo acabará pelo fogo, outros pelo gelo. pelo que provei do desejo, concordo com aqueles a favor do fogo. mas se tivesse que perecer duas vezes, penso que sei o suficiente sobre ódio para dizer que a destruição pelo gelo é tanto gloriosa como capaz."

-robert frost.

domingo, 5 de julho de 2009

ela arruma a cama, eu continuo deitado no sofá. ela passa por mim, alisa meus cabelos, ajeita o cobertor. pega a chave do carro, da casa. apaga a luz, destranca a porta. ela sai, eu vejo os calcanhares indo. torço pra que ela tenha esquecido alguma coisa, encontro a janela aberta e em um assopro o vento entra, levanta o perfume dela por todos os comodos e leva embora. é, ela não esqueceu nada.

sábado, 4 de julho de 2009

Sorte de hoje: Trate os defeitos dos outros com a mesma consideração que lida com os seus.

repulsa?! o.õ
as apostas foram altas, mas eu tou perdendo o jogo. me falaram "ei, ainda falta o river", mas..

talvez eu queira mudar de mesa.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

2046

te conheci de um jeito amargo, cheiro forte do seu cigarro. e, ainda assim queria te provar. me viciei no seu desprezo, me encantei com a sua encenação, fingindo me ignorar. mudei minha vida toda por você, você nem pra arriscar. eu cansei, não vou mais. o que é pra ser, só pode ser, se você quer. você nem tentou mudar. o que é pra ser, só pode ser, se você quer. você nem tentou me amar. e, foi assim tão de repente, o que era meu, agora já não é mais e nunca mais será. passei a andar tão distraído, passei a amar por pura convenção, fingindo me entregar. joguei minha vida fora por você, você nem pra arriscar. eu cansei, não vou mais

-moptop.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

dois mil e catorze.

05/06/09


na iminência de tornar-me sem-teto, resolvo então falar da copa de 2014, no brasil. copa essa que terá fortaleza como uma das sedes. alguém, por favor, me diz de quem foi essa idéia genial de por um país do tamanho do brasil para ser sede de uma copa? e como assim escolher cidades totalmente sem preparo para sediar jogos?

apesar de não saber muito da situação dos estádios esportivos e da infra-estrutura geral das demais cidades que vão ser sede de alguns jogos, posso dizer o que tenho ouvido de pessoas que sabem, pelo menos um pouco, sobre o assunto. e, o que eu tenho escutado não é lá muito bom, já ouvi que muitas das cidades vão ter estádios construídos do zero ou terão reformas, pagas pelo governo, que custarão valores bem exorbitantes.

já obtive informações que aqui, em fortaleza, o orçamento para os preparativos especiais para copa é de 9 bilhões e uns quebrados. para os menos remunerados terem noção da quantidade de dinheiro, isso dá para comprar 18367346938 esfirras de carne do habibs. são linhas de trem, metrô(até de superfície, coisa que não entra na minha cabeça), vários outros diversos meios de transporte, ruas não esburacadas, talvez uma duplicação da via-expressa e por ai vão várias coisas para maquiar a cidade e fazer do brasil um arremedo de país de primeiro mundo.

é na parte das reformas na cidade de fortaleza que chega-se a explicação da primeira frase desse texto. exatamente, eu talvez, não muito remotamente chegue a ficar sem-teto. como já havia dito existem projetos da prefeitura para mudar algumas vias de transporte e por meu prédio ser consideravelmente perto do trilho do trem, ele pode ter que ser derrubado para que haja espaço. o que mais me preocupa não é a minha possível futura falta de moradia, mas sim a das pessoas que moram na favela aqui ao lado do meu prédio. logo eles, eles que vibraram com a escolha da nossa cidade como sede, que pularam, soltaram fogos. em breve, eles vão ser retirados de suas casas e com certeza começarão a se perguntar algo que eu já me pergunto hoje. é mesmo de todo bem essa copa?

quinta-feira, 4 de junho de 2009

educando.

04/06/09



ele entra na sala, cumprimenta o professor respeitosamente:
- e ai, macho?!
o professor devolve o cumprimento e sorri lembrando-se de como um deles estava caindo de bêbado no final de semana passado. mais tarde, enquanto corrige as provas da etapa o professor percebe que por pouco aquele aluno não atingiu a nota necessária para passar. logo ele, tão bom, divertido, não merecia ter que passar as férias em recuperação. o professor, então, aplica-lhe uma nota maior do que ele merecia.

qual é o limite, eu me pergunto, para relação de intimidade entre aluno e professor? para mim, essa relação tem que ter um limite curtíssimo. sem tratamentos informais, sem camaradagem, sem qualquer demonstração de amizade ou, pelo menos, sem esses itens em plena sala de aula.

como aluna de terceiro ano(ano em que os professores já ficam mais soltinhos para se relacionarem com os alunos), eu digo por experiência própria o quanto o respeito aos mestres foi reduzido. a culpa já não é só dos alunos, mas também dos próprios professores que se igualam e viram, praticamente, colegas de seus alunos. já não há mais respeito, já não se leva em consideração as dicas de um professor e tudo isso dá-se por conta dessa inovação na relação professor-aluno.

um professor, pessoa que supostamente tem mais experiência, mais conhecimento e que está ali para passa-los aos jovens alunos pode, muitas vezes, acabar fazendo o trabalho contrário. eles já não são sóbrios, íntegros e respeitosos(mesmo que por interpretação), eles agora falam palavrões, gírias e vão para as mesmas boates que seus pupilos. não que os professores devam ser venerados e obedecidos cegamente, mas um “senhor” de vez em quando vai melhor que um “macho”, um “ei”.

apesar de toda contradição que sou, nesse assunto eu me vejo em uma posição muito conservadora. ainda acredito em professores que controlam uma sala, que exigem ser chamados de “senhor”, que são conselheiros e não amiguinhos de balada. pois, mesmo que eles não sejam completos bons exemplos para os estudantes, eles tem de tentar ensinar não só as matérias, mas também um modo correto de respeitar os demais, um modo correto de como se comportar em sociedade.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

polititica.

03/06/09



uma pequena parcela de pessoas controla instituições que procuram defender as opiniões de uma grande parcela de pessoas. o nome das instituições? partidos políticos.

em uma roda de amigos, sábado a noite, entre uma cerveja e outra, a política acaba tornando-se tema recorrente. do mais pobre ao mais rico, todos eles possuem um partido. um partido que assim como um time de futebol se torce, se alia. é de uma forma quase doentia que a sociedade encontra na divisão ideológica entre os partidos políticos mais um motivo para segregação.

algumas pessoas fecham os olhos para os participantes do bando e continuam esperando as mudanças ideológicas. outros já preferem o partido daqueles que são conhecidos. a grande maioria tem, além de um favorito, também um odiado, aquele que é sempre motivo de chacota, aquele que os integrantes são homossexuais ou que suas mulheres praticam o adultério.

existem alguns já cansados de guerra que não tomam partido, que como cazuza só têm de partido o coração. são esses que no bar se calam e podem observar a selvageria que uma discussão sobre política pode se tornar. pessoas gritando, defendendo outras que nem sequer conhecem, outras atacando sem provas e vai em bolsa-familia, capitalismo, crise, liberalismo, comunismo, partido verde e blá blá blá, enquanto a razão já vai indo para sua casa.

é incrível como política é um assunto delicado. um comentário menos cheio de eufemismos sobre alguma ação de um político pode virar caso sério de morte. e é assim, as pessoas vão idolatrando uma pequena turma, sendo devotas, apoiando tudo, mudando opiniões já formadas. pessoas que perdem o senso da liberdade de opinião do próximo, que julgam os outros por não concordarem com eles, que tentam impor sua preferência partidária aos demais. são pessoas que vão lavando seus cérebros e deixando-os abertos a qualquer opinião-pronta que se queira aplicar nele.

com essa esquisita cultura de adorar partidos políticos, deixa-se de avaliar o desempenho e a competência dos políticos individualmente para agrupa-los em times portadores de fortes torcidas organizadas. talvez esse seja o motivo das tantas decepções com a política atual, os partidos já não são uniões de políticos com os mesmo objetivos, as velhas ideologias vão sendo deixadas para trás. mas os cérebros lavados continuam ali, firmes e fortes... nos bares ladrando baldes de baboseiras sobre o partido rival.

terça-feira, 2 de junho de 2009

minha fortaleza.

02/06/09


“my city, i can not deny her. my city screams. she is my mother. she is my lover, and i am her spirit.”

-the spirit



minha força, meu abrigo, meu conforto. minha menina dos olhos, minha protegida, minha paixão sem motivo. é ela, ela que os pronomes possessivos não deveriam caracterizar, mas que caracterizam e a tornam do jeito que eu sinto, minha. infelizmente não nasci por essas ruas que hoje fazem do meu peito carnaval, mas foram nelas que encontrei um cantinho para depositar meu amor.

sei dos males, das misérias e das mazelas. tenho conhecimentos dos buracos das ruas e dos assaltantes delas. reparo na prefeitura omissa, nos moradores infiéis. encontro-me com a poluição, com o mal trato que multiplica-se a cada dia. sinto os odores e as angústias da cidade-forte que as vezes encontra-se solta e desprotegida.

entre as ruas, conhecidas e não, vejo as cores. lindas cores antigas, robustas e fortes, mas calmas. são ruas com construções sábias, prédios brincalhões. um misto harmonioso entre o passado e o presente. são bairros recheados de aventuras, de figuras folclóricas. um livro de história escrito no concreto do pavimento. são praias com areias finas, com banhistas animados e com uma maré brava. onde tudo de ruim é lavado pelas preciosas ondas do atlântico.

o clima e o povo são irmãos, exagerados os dois. muito calor, muita chuva. muita festa, muita animação. são pessoas que estendem a mão, abrem os braços ao abraço. provincianos que, mesmo com a modernidade, tentam e conseguem manter a cultura e alguns costumes de uma geração já passada.

sei bem que nem um quinto dessa cidade conheço, mas já me vejo conquistada por suas peculiaridades, seus becos escuros, suas ruas arenosas, seus espaços culturais, suas tantas praias, todas essas partes que aparentemente fizeram-se prontas para mim. e então, vou dando tempo ao tempo. ela vem vindo comigo, ao meu lado. eu passo vendo e em mim ela vai crescendo. e nela, eu sei, meus passos vão sendo marcados.
minha amante de hoje, meu amor de sempre.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

em qualquer lugar do Atlântico.

01/06/2009

desencontrados do mundo. entre águas ou, talvez por uma boa brincadeira do destino, entre terras. alguns esquecidos, outros tantos lembrados. quem sabe estão eles todos nadando sem rota definida, mas com um só rumo: a salvação.

são homens, mulheres e crianças. todos abandonados por uma sorte que costuma se ausentar sem dar avisos, sem bilhetes. são brasileiros e não-brasileiros que em um ponto do mapa, sumiram. ali, bem perto do nosso pequeno paraíso uma força maior derrubou-lhes sem pena. e então, fica a pergunta, que força será essa? um raio como dizem nos noticiários ou talvez algo ainda mais forte? seria o que chamamos de azar? ou o que chamamos de destino?

ainda jovem, mas já cética, eu particularmente acredito no azar. os tripulantes, os passageiros, os familiares e o resto de nós que do conforto da casa pasmados ficamos. todos sujeitos as coisas darem certo, todos sujeitos as coisas darem errado. e é assim, quase sem avisos, quase sem motivos que as coisas desandam e de um dia para o outro as pessoas que ali estavam já não estão mais.

entre os que observam e não participam, pergunto-me sem parar o “por quê” desse acontecimento, de quem foi essa idéia, de como aconteceu. pergunto-me, enquanto figa faço, se ainda há vida no corpo de qualquer um que no avião estava. tento de forma quase inútil passar, de longe, boas energias para os familiares, esses coitados que sofrem sem resposta, sofrem por ter esperança, sofrem por vê-la se esvaindo. torço, sem rezas, sem sortilégios, mas ainda assim torço para que exista alguém que por sorte ainda não tenha encontrado o que especulam que todos esses perdidos já encontraram.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

behind my lips.

um riso insano toma conta de minh'alma.

aquele riso assim, meio escrachado, sem dentes e lábios tremulos. um riso de quem deixa passar mas não esquece, de quem tenta explodir, de quem a razão não se deixa sair, de quem guarda pra si.

aquele da certeza incerta, do preenchido vazio. das histórias em becos escuros, dos vilões de historia em quadrinho. do humano contra a besta. da tentativa de controlar um descontrole que já tomou as rédeas da situação.

não, não. aprendi com as pessoas certas que quem mais importa sou eu. e, para mim, só tenho sorrisos bobos, de dentes a mostra e lábios estáveis.

- opa, amigão. me vê um sorriso bobo com uma pitada de controle, por favor!

terça-feira, 19 de maio de 2009

pirraça

origens.

odeio barulho de despertador. odeio acordar, odeio dormir. todo esse ódio é devido a minha admiração, não explicita, pela inércia. nunca sei a hora de parar e nunca quero. por que não posso sempre continuar fazendo aquilo que já fazia antes? por que tudo sempre tem que ser interrompido, parado, antes que realmente acabe?

a casa estava vazia, como deveria estar. afinal, quem mora sozinho nunca gosta de descobrir que tem outras pessoas na casa. o apartamento semi-pequeno e quase-minúsculo estava totalmente iluminado pelo crepúsculo, bem bonito de se admirar. não tinha tempo, tomei banho, me vesti e saí.

ouvindo música no carro comecei a pensar em como aquela sensação era estranha. ir para casa, ver meus pais e meus irmãos sempre parecia um tédio, até eu chegar lá. então, toda a alegria da família-quase-perfeita tomava conta de mim. era, incrivelmente, muito bom estar com eles, batendo papo, comendo a comida da mamãe pirraça ou jogando alguma coisa. não muito grande, a minha horda é formada pelo papai, a mamãe, a irmã mais velha, o irmão mais velho (mais novo que a irmã mais velha) e eu.

cheguei a casa, digo, na casa da minha mãe, já estavam todos lá. a última reunião da família toda havia sido no natal e, pra mim, já parecia muito tempo. em menos de um mês todos pareciam bem diferentes. bom, pra falar a verdade, estavam todos iguais, eu que estava com saudade mesmo.

depois de algum muito tempo de conversa, de agüentar os irmãos mais velhos tirando sarro da minha cara, de enganar minha mãe sobre a situação da geladeira do meu apartamento e de agradecer mais alguns milhares de vezes ao meu pai, eu e meus irmãos decidimos ir jogar vídeo-game na casa do irmão mais velho.

a irmã mais velha foi a primeira a sair de casa. já com o emprego fixo e recebendo um bom salário, ela se casou e foi morar com o marido num apartamento cheio de coisas luxuosas e, também, um filho. já o irmão mais velho demorou um pouco mais, ainda não tinha um bom emprego. até que encontrou um ótimo emprego e mudou-se com a namorada pra um apartamento não-muito-grande-mas-bem-localizado, hoje ele mora lá só. devo logo avisar que a minha história de saída de casa não é nada de que eu me orgulhe. aproveitando-me do fato de meus irmãos já morarem em suas próprias residências, acabei implorando e conseguindo do meu pai o atual apartamento em que hoje sobrevivo. só o que espero é que daqui a um mês, ou seis, meus irmãos parem de me sacanear por isso.

os irmãos, tanto ela como ele, sempre foram os melhores em todos os sentidos. ela sempre agiu, desnecessariamente, como minha mãe, já ele ficava encarregado de me mimar sempre que possível. na hora de brigas com meus pais eles sempre procuravam mostrar meu lado para eles, já que eu nunca conseguia com as batidas das portas ou as com os objetos quebráveis jogados na parede.

meus pais, assim como meus irmãos, cumpriram com perfeição a missão que lhes foi proposta quando este bendito ser que os fala nasceu. meu pai é um homem com uma máscara. aposto que quando você o ver pela primeira vez pensará que ele é sério e mau, quando na verdade ele é o dono do coração mais mole do mundo e é um completo bobo, sorte a sua que a máscara dele cai fácil. minha mãe é, pra mim, uma pessoa intrigante, jamais conseguiria definir aquela mulher. ela é toda um misto de simpatia, força, maturidade, amor e muita opinião.


eu e os irmãos fomos, então, pra casa do irmão-homem. um apartamento curiosamente decorado em branco, sempre limpo e organizado, totalmente diferente do que eu pensaria para a casa de um homem solteiro de 28 anos. apesar de sempre dizerem que as irmãs se dão melhor com as outras, aquele era o apartamento que eu mais freqüentava. o meu irmão sempre foi o que eu tinha mais assunto, o que eu falava tudo e escutava também. não que ele fosse meu preferido, nunca tive coragem de escolher um, mas ele o que eu podia ligar na hora que quisesse sem atrapalhar ninguém mais. diferente dele, minha irmã já tinha família só dela, inclusive meu querido e primeiro sobrinho.

e então estávamos nós, as crias, os irmãos. juntos novamente com um propósito bem definido e cheio de significado. jogar vídeo-game! é, se existe uma coisa em que agradeço todo dia, santo ou não, é o fato de meus irmãos serem bobos. apesar d’eu me mostrar muito competente, não, eu não ia conseguir protagonizar esse papel sozinha.

domingo, 3 de maio de 2009

sagittarius.

movido pelo instinto. sagitário, a besta. partilha imperfeita de homem e animal.

consciência, por vezes, praticamente nula. existência questionável, fé inacreditável. pessimismo teatral, atuação inerente. aprisionamento na constante busca de liberdade. palavras não pensadas, pensamentos não traduzidos em palavras.

diversas flechas lançadas numa guerra pacífica. trotando rapidamente, buscando ora o por, ora o nascer do sol. transmitindo segurança, pela ausência dela e presença da bestialidade. emocionalmente animalesco. sem dores, sem maldade. traz, em si, a essência de ser

natural.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

pirraça.

prólogo.

pê ih erre erre ah cedilha ah. era assim que me chamavam, sem qualquer justificava, no colégio.

- ei, pirraça, estão te chamando na coordenação.

não, o colégio não foi tão problemático assim. foi nele onde toda a historia de anti-heroína começou, mesmo que essa história sequer exista. nada era complicado naquele tempo, mas, acredite, nem tudo era simples.

nunca entre os mais populares, nem entre os excluídos. por sorte, escapei pela tangente durante todos esses anos (não que eu, de fato, tenha aprendido algo sobre tangentes). nunca tive um grupo de amigos, mas também nunca estive só. o jeito de difícil parecia atrair mais gente do que eu jamais esperara quando o adotei.

sim, o jeito, a atitude, foi adotado. é tudo moldado. e hoje já me pergunto: “quem não o faz?” todos moldam o que querem ser ou parecer. quero dizer, um surfista não nasceu surfando, ele escolheu aquilo como estilo de vida... ou de morte, dependendo da ocasião.

em meio ao apático uniforme do colégio a maioria das meninas escolhia destacar os peitos, sendo eles delas ou não. já os meninos preferiam os tênis, qualquer marca em que pequenas crianças do oriente são encarregadas de produzir. não que eu fosse muito diferente deles, mas peitos ou tênis realmente não eram muito minha praia. o meu jeito de destaque parecia ser outro. provavelmente, a cara de tédio e jeito de não ligar pra toda aquela, suposta, grande coisa.

prestava atenção nas aulas, sempre. por cerca de trinta minutos, no máximo. ao final do ano era sempre possível dar um jeito, estudar algumas madrugadas ou usar dos contatos que eu conquistava ao longo do ano. é, eu realmente os conquistava, não de um jeito manipulador, mas todos sempre paravam pra me escutar e talvez pra me seguir. algumas vezes acontecia sem intenção, de repente eu arranjava uma nova amiga, quase uma seguidora. em outras vezes, tudo tinha um “Q” de estratégia.

a piranha do colégio não era eu, também não era a líder de torcida que acaba com a vida dos outros, nem ninguém de destaque. levei esses anos sem qualquer desses papéis principal que envolva vários paqueras, namoros e, principalmente, escândalos. em relação a isso sempre fui calma. só em relação a isso, devo lembrar.

se existe uma virtude que eu, dona pirraça, nunca possuí, essa foi a calma. mãos frenéticas e constantemente suadas, olhos do tamanho de uma bila e sempre atentos a tudo (ou deveria dizer a todos?). eu não espero, não dou chance, muito menos penso duas vezes para agir. pra mim é tudo já foi ou, simplesmente, não foi. fim de papo e de paciência, na maioria das vezes.

quando o colégio acabou, eu fui só mais uma e quis que aquilo tudo voltasse. afinal, os anos no colégio não passam de uma longa brincadeira de esconde-esconde. você, podendo se esconder aonde quiser para não se mostrar aos outros ou escondendo-se de você para não ter que, enfim, descobrir quem realmente é. uma vez fora do colégio, o esconde-esconde acaba, as luzes se acendem e você tem que saber quem diabos é você e que porcaria você quer fazer.

em uma linha de raciocínio simples, escolhi o que as pessoas gostariam de ouvir de mim. faculdade. algo que, pelo menos, afastaria o temor que todos sempre tiveram. parecia que todos concordavam no meu destino de ser mais uma inútil no mundo.

é, eu fiz a escolha deles, mas não antes de fazer a minha. faculdade passada, faculdade adiada. eu, antes de qualquer pessoa, merecia um descanso. um ano livre.

foi nesse um ano que o dicionário ganhou um novo significado pra pirraça:


eu.

-----------------------------------------x---------------------------------------

meu texto-filhote, esse. tem continuações e provavelmente vai ter mais, mas tenho maior ciúme de colocar minha pirracinha aqui no blog. não, ela não pode ser exposta desse jeito. auhuehe ;D
e não, isso não é autobiografico. x.x"

domingo, 29 de março de 2009

madrugada.

cartas não lidas, postais não mandados, alianças não entregues. ela é assim, uma não ação de uma quase coisa. entre a noite e a manhã, não sendo nem noite e nem manhã. escura, fria e amedrontadora para alguns, ela pode ser clara, quente e esclarecedora para outros.

engraçado pensar que nessas horas, entre o zero e o alguma coisa, é que o mundo acontece. pessoas se conhecem, separam, morrem, nascem e dançam. dançam essa musica entorpecente do dia de hoje que não acabou e do amanhã que não chegou. dançam às formas da vida que se formam nessa iminência de nada, com ar de tudo.

na madrugada, sendo e não sendo, tudo é ou se torna alguma coisa.




quinta-feira, 19 de março de 2009

graciosa.

ela?
ela nem sabe que entre uma conversa qualquer e uma outra cheia de significados e importancias, eu parei. parei pra olhar, pra analisar tudo... parei, e sorri.

passei bastante tempo deixando aquele sorriso brincar entre os meus lábios. quando, assim, do nada, como aquilo tudo, uma pequena porção de água salgada escorre pela lateral direita do meu rosto. o sorriso virou um riso.
como um pirata, eu encontrara meu tesouro.

quarta-feira, 18 de março de 2009

e ela me olha e diz:
- você se consome e deixa as coisas te consumirem. sempre foi assim.
eu abaixo a cabeça, penso em tudo. os vicios, as pessoas, as modas, as vontades e, de novo, as pessoas. é, eu consumo tudo. consumo a mim sem notar, até.

apelo pra mentira, então:
- você não me conhece.
não, nem levanto a cabeça pra falar isso. como eu poderia olhar pra ela?
ela fala calma, como sempre:
- eu te conheço mais que você mesma, sei tudo o que se passa ai dentro.
- não, não sabe. eu me conheço bem.
digo, e vou embora.

é. eu minto para mim sem notar, também.

sábado, 14 de março de 2009

a vida é engraçada,
mas eu não preciso rir de todas as piadas, preciso?

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

por que, eu?

andando pra pensar,
na rua, sem olhar.

por ti passei

entre pulos e suspiros
e com o peito em carnaval
me perguntei:

por que, eu?

eu encontrei em teu olhar
um jeito novo de gostar
de alguém

e tropecei no teu sorriso
dos teus braços fiz abrigo
e sem ter medo, fui atrás

mas recuei

pra mim não era, o teu brilho
então, tudo virou castigo

e eu desandei

passei problemas e perigos
e com o peito, em três, partido
me perguntei:

por que, eu?

se encontrei em teu olhar
um bom lugar pra me guardar
e já não ser...

de mais ninguém.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

dagger.

ela me olha por cima do ombro e diz:
- ele precisa de mim.
com a cara fechada percorre com velocidade a rua escura. a lua brilha em seus olhos.

essa é sempre a justificativa. não que, de fato, justifique algo, mas parece lhe dar razões suficientes pra continuar todo o processo. toda a história de complicações e sofrimento que se repete, sem parar.

em meio à confusão deles, ela aparece. por vezes, ela consegue tranqüilizar e estabilizar, esses finais chegam perto de serem felizes. no entanto, em outras tantas vezes ela multiplica as complicações, acelerando um processo que deveria ser retardado.

é sem medo que ela, mais uma vez, me sorri e diz que se preocupa com eles, que eles precisam dela. sempre indo, nunca vindo, ela dirige o corpo perfeito para mais um dos necessitados. pra ela, tudo estava prestes a começar. já pra ele, as coisas formavam-se diferentes.

ela chega e ele sabe, eles sempre sabem. tudo acontece suave, por um momento chego a pensar que ele, realmente, precisa dela. ambos respiram, ali, um ar rarefeito. devagar, suavemente. em um momento de susto, então, ele percebe que o fim chegou.

cortando a pele dele, está a faca que ela segura com apenas uma mão. com força, tenta aprofundar aquela ponta cada vez mais. mantém os olhos nos dele e, sem avisos, retira a lâmina que já havia perfurado e machucado o mais profundo dos lugares. seus olhos vão ao chão, sem lágrimas, sem sorrisos.

é nessa hora. quando ela sai, cabeça baixa e roupa ensangüentada... é nessa hora que é difícil agüentar vê-la.
tentando não precisar.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

seilá.

hoje, 25/26 de janeiro de 2009

eu quero alguém que me deixe ser sensível, chorar quando eu preciso. alguém divertido que conte piada e que, obviamente, ria das minhas. quero alguém que me dê, com sua companhia, pelo menos um quinto do conforto que meus três irmãos me proporcionam.


seria interessante alguém cheiroso. não cheiroso graças a um perfume, mas cheiroso de pele, de essência mesmo. alguém com o gosto bom e um sorriso bonito. sobrancelhas expressivas, olhos brilhantes e algum ideal.


descobri que também procuro responsabilidade, personalidade e versatilidade. e que se tem uma coisa que eu quero é longe é intensidade ou seriedade.


eu quero alguém pra ser eu mesma. brincar, rir, falar besteiras, interagir com minha família. alguém que alise meus cabelos quando eu estiver doente. alguém que não ligue pra pose que eu sempre tento manter e que acabe por sempre me ridicularizar, de um jeito fofo.


hoje eu nem quero só alguém pra me dar amor e carinho, quero alguém que receba isso de mim também. quero pegar alguém "pra criar", mesmo sabendo que no final das contas quem precisa ser "criada" sou eu.




um dia ai, 15 de janeiro de 2008

eu quero alguém que repare no dentinho torto do meu sorriso, que veja que os sinais da lateral da minha barriga formam uma linha quase reta e que me chame de apelidinhos toscos na frente dos meus amigos só preu ficar envergonhada. eu quero ter alguém pra discutir sobre política, feminismo e o último clipe da fergie.


preciso de alguém pra ver e comentar filmes, séries e livros comigo. alguém pra ter o maior quebra pau e depois ir pedir desculpas com o rabo entre as pernas. alguém pra concordar em quem é a cantora mais foda, qual a banda mais original e qual o rapper mais feio. 


seria interessante ter alguém que me desse vontade de ter uma tatuagem em homenagem, mesmo que eu nunca tivesse burrice o suficiente pra faze-la, que me fizesse uma poesia ou musica ridícula, sabendo que ela é ridícula e mesmo assim cantasse.


talvez seja muito narcisismo, mas eu bem que queria um "alguém" mais ou menos como eu. com algumas mudanças, claro, pra não ficar chato e previsível. isso, provavelmente, mostra o quão despreparada eu sou pra "ter alguém" e pra falar a verdade nem quero mesmo ter, só tava sendo uma bicha e fazendo esse texto fofinho de mulherzinha.



tou crescendo.  :D


[terceira vez que eu posto esse segundo texto ai, acho que eu realmente gosto dele, né?! o.õ]

stuff.

lista de coisas pra fazer essa semana.

  1. comprar cadernos - feito
  2. comprar material escolar - feito
  3. comprar farda
  4. ver presentes para tábita - semi-feito
  5. marcar salão pra cortar o cabelo - feito
  6. cortar cabelo - feito
  7. tirar sobrancelha - feito
  8. pegar a mochila na casa da lis
  9. colocar musicas no mp4
  10. carregar mp4
  11. arrumar comidas pra viagem
  12. arrumar malas pra viagem
  13. viajar
e eu ainda tenho que, supostamente, descansar pra semana de aulas que começa ai no dia 2.  
yes! :D




terça-feira, 6 de janeiro de 2009

shit, man.

e então passou-se o ano. chegou dois mil e nove.

 

nunca tive tanta não-expectativa como tou tendo pr'esse ano. é quase como se ele não tivesse me oferecendo nada, mas eu sei que nele vão existir várias coisas que eu poderei conquistar se eu quiser.e ta aí, uma coisa que eu comecei nesse ano foi com força de vontade, talvez as coisas até funcionem, né? quem sabe...

 

outra coisa que passou também foi o natal. é. esse ano nem rendeu post revoltado com as pessoas que o odeiam. alias, o natal desse ano foi totalmente apático, pelo menos pra mim. não parecia, realmente, natal até estar com toda a família reunida na casa da minha irmã. talvez seja coisa minha, ultimamente ando bem deslocada de tempo e espaço.

 

hm. chega de post.

amanhã sai o resultado da recuperação.. e da minha permanência ou não na turma olímpica.

shit shit shit, man.

arquivo.