sexta-feira, 26 de setembro de 2008

ao interior de.

ajeitava pequenas coisas em seus devidos locais. as mãos trabalhavam maquinalmente e a cabeça delirava, viajava livre. a janela aberta fazia a cortina bater com o vento, algumas folhas da revista ao meu lado esvoaçavam. 

pela cabeça passavam músicas, fotos, você, manchetes de jornais, poesias, textos. foi, então, que minhas mãos pararam, as folhas pararam, o vento parou. teu doce cheiro habitual estava no ar. com os olhos fechados senti você entrando em mim, como aquele cheiro que eu aspirava sem dó. queria tudo comigo e só.

em menos de um segundo o cheiro de dispersou, os pensamentos se afastaram e a cortina voltou a bater. você estava lá. dentro de mim. 

terça-feira, 23 de setembro de 2008

passatempo.

ela sempre andara devagar. até já chegou a ser motivo de chacota por isso. não andava devagar por lerdeza. era, simplesmente, desligada do tempo. não o entendia, parecia-lhe complexo demais.

 

o tempo sempre fora uma variável para ela. por vezes muito lento e algumas raras vezes muito rápido. tinha certeza de que havia dias em que a preguiça do tempo era proporcional a dela.

 

estranho foi o dia em que o tempo, que apresentava-se comumente lento, acelerou. ela teve duvidas se foi o tempo dela ou o do mundo que apresentou a mudança. poucos dias pareceram semanas. as semanas, meses.

 

os dias, em si, pareciam razoavelmente normais, lentos e chatos. só apresentavam diferenças em apenas um momento. era nesse momento que a chatice e a normalidade perdiam lugar. a lerdeza ainda atacava-lhe, mas não ao resto do mundo.

 

era como nos filmes, quando querem mostrar um momento que vai ficar pra sempre. as pessoas que interessam estão em câmera lenta, enquanto os demais andam rápido, apressados. e era bem assim. nesses momentos contava as batidas do coração acelerado, analisava todos os cheiros e até sentia o vento dos acelerados que batia-lhe o rosto fortemente.

 

o problema é que ela ainda não sabe por quanto tempo o tempo ainda vai brincar de fazer a semana virar mês ou da vida virar filme. talvez, quando ele resolver parar exista uma razão para ela começar a correr.  

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

eu sou um grude.

dou meu reino por um abraço, beijo, cafuné, massagem, carinho, ficar abraçadinho. sou louca por um dengo, uma coçadinha, umas uninhas me arranhando, umas batidinhas nas costas. gosto até de uns carinhos mais violentos, mordidinhas, beliscão, chupão. adoro quem fica fazendo maldadezinhas com quem gosta. 

adoro mesmo é atenção.

sou um grude eu.

a flexa e o rugido.

era sábado. levantou de manhã cedo, pegou o jornal na portaria do prédio e sentou-se no sofá da sala pra ler. tinha a mania de sempre ler o horóscopo do dia, dele e dela. procurou pela página o signo próprio, sagitário. leu alguma bobagem sobre o dia ser bom para contatos profissionais e passou os olhos, perdidamente, pela página.

lembrou-se da briga do dia anterior. lembrou-se da noite de choro dos dois. ele havia começado a briga, mas foi ele que pediu arrego. se havia uma coisa que ele não conseguia fazer, era ver um problema e ignorar. era direto e preciso. sempre tentava discutir, avaliar e resolver, mas aquela noite foi um pouco diferente.

ela era dele e somente. ele também. o amor entre os dois funcionava perfeitamente. ninguém sabe ao certo quando aquilo mudou, mas tudo começou na quinta feira. 

eles não brigaram, não discutiram. pra falar a verdade, eles sequer se falaram. foi de repente que o cansaço atacou os dois, não tinham vontade dos beijos apaixonados e dos abraços apertados. ainda era bom ficar um do lado do outro, era morno.

foi na sexta feira a noite que ele resolveu acabar com o problema. pensou que seria rápido, que logo estariam na cama vendo TV juntos. chamou-lhe e, pela primeira vez nas últimas 48 horas, falou com ela. perguntou o que havia de errado. o leão se soltou. ela nunca agüentou não mostrar o que sente pra ele, sempre tentou demonstrando seus sentimentos das formas mais marcantes.

"eu quero sentir que sou importante pra você, quero ver você dedicado ao nosso relacionamento..." ela dizia. "eu compreendo que você pense isso, mas eu sou assim..." ele disse e, então, calou-se. o embate ali não levava em conta o amor, mas a natureza. a junção de quem indaga e de quem esquiva, de quem promete e de quem compromete-se.

procurou pelas página do jornal o signo dela. olhou alguns instantes sem achar, leu algumas das previsões vendo se alguma batia com a personalidade dela e nada achou. 

havia esquecido o seu signo. 

era um sinal.