domingo, 5 de dezembro de 2010

fui encontrar um mundo que à você não pertence, apenas para perceber que já não há nada de interessante ali.

sinto falta de você, das suas mão se movimentando de forma infantil pedindo para eu chegar mais perto. sinto falta do teu rosto sério, bobo, triste e alegre. do teu rosto com teus olhos pousados em mim, alcançando tons de serenidade que só você é capaz. sinto falta do carinho e da certeza.

penso a cada instante que posso voltar agora, correndo, e evitar o dano previsto ao futuro que reservei apenas àquele teu melhor amigo. a verdade é que mais uma vez não sei o que fazer. entre teus braços e minhas lágrimas, confundo o que é melhor para mim e para você, pois há algum tempo perdi a linha em que estes se dividiam.

domingo, 14 de novembro de 2010

pequenas peças. nem um pouco distantes, conectados por parte qualquer do corpo que se encontra. protegendo uns aos outros, de frio, de dor, de medo, de julgamentos, de qualquer coisa assim que costuma abater as pessoas quando sozinhas.

pele com pele e então toda a necessidade de movimentos e energia, é deixada de lado, estão todos entregues, vulneráveis, prontos para se deixar ser protegidos. sem silêncio sepulcral, sem drama, sons não muito altos, conversas paralelas, sorrisos, roncos leves, cabelos em mãos, mãos em mãos.. emaranhado de pessoas querendo não muito mais do que estar ali, juntas. encaixados.


sábado, 23 de outubro de 2010

você. por mais que o tempo seja curto e as coisas mais incertas do que certas, já não adianta mais evitar, manter algo assim tão verdade em segredo. perto de ti tenho sempre essa sensação de quem não dormiu e não acordou, flutuando numa fração de tempo em que não é hoje, nem amanhã. quando tudo se faz quieto escuto teus barulhos desconexos e sinto o teu corpo no meu, tudo tão pronunciado no nosso silêncio, e então, continuo eu aqui no meu dia sem horas, na minha noite de sol raiado. te olho e solto um "bom dia", sorrindo sincero como quem quer dizer
"eu amo você".

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

vivendo.

ah, meu caro amigo, venho te contar que a vida tem tentado me derrubar. meio assim devagarzinho, um empurrão ali, um tapinha por acolá. essa vida tem me colocado em mais filas de espera do que devia, em elevador quebrado, em pedra no meio da rua e nos diários ônibus atrasados, além de toda a complicação que já é cuidar dos outros participantes dela. mas veja bem, ela anda tentando e tentando, o que acontece é que ela não tá conseguindo. dentro de algum lugar, de uma profundeza até então desconhecida, eu estou resistindo. eu que sempre vegetei e virtualizei uma vida, estou ali vivendo, aguentando o sol quente do meio dia e sorrindo na cama a meia noite.

então, meu amigo, que já deve estar estranhando, te deixo mais incrédulo, hoje enquanto subia dez andares de escada, senti em meio ao extremo cansaço e a dificuldade de respirar uma vontade de viver, assim tão grande, que nem o magnetismo inerente de uma janela de vigésimo segundo andar me atraiu. está bem que agora assim, sentada e descansada, sei bem que era resultado de muita, muita, endorfina, mas é assim que é fácil notar como existem coisas para serem aproveitadas. mesmo que a vida goste de me botar com duas camisas num dia de quarenta graus e ainda tente me derrubar, eu continuo aqui. com calor e tentando me equilibrar, mas aqui.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

e eu queria que chegasse aqui com teu carro, vidros abertos e som ligado, viesse me buscar pra deixar essa insônia se perder na noite. desceria meio descabelada, desarrumada assim e íriamos pra qualquer barzinho mal frequentado. eu pediria uma cerveja, um copo de leite, coisa qualquer para beber, enquanto, tremendo, te falava mais uma vez como ela é linda, meu amigo. são sempre assim esses momentos de frio, incoerência ou embriaguez, sempre falo dela e pra ti.

e por mais que eu queira, que tu queira, tu não vens. é tarde. abraço a insonia e lembro que nem leite, nem cerveja bebo, escrevo palavras desconexas assim e deito novamente, esperando a visita de um fantasma, um desabamento no vizinho, uma batida entre os corredores da rua. espero o mundo parar ou o sono chegar.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

take the white pill.

vai, chega lá em frente à mesa e fala qualquer coisa assim como se tivesse sofrendo, mente, fala que tem insonia, tristeza, diz que não consegue acompanhar o mundo ao teu redor. ninguém consegue mesmo, não vai ser totalmente mentira. encara o doutor, treme as mãos, pede algo para beber, para aliviar a ansiedade. fala tudo isso temendo, sem muita coragem, sem muita certeza e então espera, espera ele te olhar e te julgar. te achar mais um representante da parcela doente da sociedade, só porque você sente ou finge. e espere então, sentindo ou fingindo, espera ele anotar na folhinha azul e te mostrar. o amarelinho dá animo, o rosa é para dormir e até o azul se ele te der, aceita de bom grado, menos sangue num membro e mais no outro quem sabe não dá uma boa trip.

pega tuas bolinhas coloridas, tuas pequenas porções doce-amargas de alegria e foge dali. para na primeira esquina, mistura tudo com muita vodka, cachaça mesmo até. mistura tudo e espera o mundo fazer sentido, as cores terem nuances e o tempo não existir. então sai dali, vai para casa, liga o som, pega um livro e bate um papo com teus autores preferidos. pergunta para aristóteles porque por mais saudável que seja permanecer sem vícios, ficar no meio do caminho entre medo e coragem, tudo é tão mais sem graça assim?! de pau duro, ouve o cazuza perguntar como pode alguém tão demente, porralouca e inconsequente amar e grita, grita do fundo dos teus pulmões que você ama e ama mesmo, sem amarras, sem limites e grita até acabar a voz, até o seu manuel bandeira te chamar calminho para montar em burro brabo, subir em pau-de-sebo e tomar banho de mar.

quando o mundo voltar a correr, o telefone tocar, o vizinho reclamar, volta para tua vida como quem nada quer, deita no tapete, abraça as pernas e fecha os olhos, fica ali contigo e só. eu sei que por mais horrivel que seja você sabe, sabe que tá sozinho porque teu mundo é mais que o dele, que tudo sai por uma tangente onde não se sabe o valor dos catetos. aprende, então, que o mundo é mais teu que dele também, que de alguma forma doentia voce foi escolhido para entender como funciona tudo e entenda, entenda bem que no em seu mundo, você tudo pode.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

estava tudo bem. estava, até que você chegou e roubou muito de mim, fôlego, músicas e agora livros, personagens. você vai roubando de mim -ou vou eu te deixando levar- sem perceber e por mais que pareça cruel assim falando, não me doi. me dá um prazer sem explicação te ver me levando, transformando em ti o pouco não meu que circula por aqui.

e é assim que eu sei. como grande egocentrica que sou, quando as coisas perdem o status de minhas, pra virarem nossas, ou suas, eu sei que encontrei. é assim que eu sei que encontrei o que as pessoas chamam de pessoa certa, pelo menos por enquanto. por vezes acho até que você saiba, pois por mais pesado que pareça, você carrega bem tudo isso de ser a pessoa e o é com excelencia, mesmo me acordando nos domingos.

talvez seja o fim do ano e a vontade de mudar, construir, viver que essa época traz consigo, mas é engraçado como contigo sempre dá vontade de continuar. deixar tudo crescer até morrer louca de amor ou, indo pelo lado saudável, ter várias crias e plantar um futuro nosso pós-mortem. com você é diferente, não sei pelo seu jeito ou por conta da minha imaginação, eu e você estamos entre o tanto que podia dar errado, que podíamos nos perder antes mesmo de nos acharmos, mas estamos aqui e seguimos.

- entra, pega o que quiser. fica para o jantar?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

texto achado na madrugada ii.

corpo magro, branco, branco. sem camisa, alguns musculos no braço, sem barriga. bermuda escorregando pelo quadril portador dos segundos mais lindos ossinhos, cueca mostrando-se. esse, é ele. minha cara, meu amor.

meu. .ele é aquele que sempre me protegeu. a influencia da minha infancia. o dententor de minha admiração incondicional. meu irmão.

irmão meu, amor nosso.

texto achado na madrugada.

e então eu acordo um dia, olho ao meu redor e tudo parece errado. errado para mim ou para o que eu costumava ser? errado de um jeito que é possivel consertar ou irremediavelmente errado?

meus pés procuram o chão, enquanto, em vão, meu cérebro procura respostas. não encontro nem um, nem o outro. procuro placas que me digam o caminho, procuro estranhos com conselhos sábios. não encontro nem um, nem o outro. nem eu, nem o outro.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

oi, eu só queria dizer que eu lembro. de você, das suas semanas, daqueles dias de cores e de calma. lembro do seu toque, de como era sentir tua pele nos meus dedos, nos meus lábios. eu já não estou aí, te deixei no meio de um caminho que tomamos por minha culpa. não quero te dizer nada que soe como um pedido de desculpas, mas devo dizer que sinto muito e que te guardo, com o maior carinho possível, com o maior cuidado para não quebrar memória qualquer, pedaço algum que seja tão sensível como você. tenho comigo todos os sorrisos que me deu, todo o amor. guardo também o espaço daquele pouquinho meu que, talvez nem você saiba, ficou contigo.

nem as coisas, nem as noites são as mesmas, mas algo me diz que te devo, antes de qualquer coisa, o meu querer bem. e eu quero.

assinado: pequena.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

você me diz que não, que vai esperar, que não vai dessa vez, que vai guardar dinheiro, paciência, coisa qualquer. aceito qualquer coisa que disser, você bem sabe, mas aqui dentro é tudo tão diferente de ti. talvez seja eu que já tenha perdido muito dessa leveza ou vontade que ainda encontro aí. te digo que vou, vou porque não tenho mais nada a perder, nem tempo.

sabe, essa tua vontade, esse querer acreditar, é uma das coisas mais preciosas que se pode ter. queria poder te dizer para se segurar nisso, não perder, mas tenho medo que no momento que falar isso eu perca os farelinhos que ainda guardo aqui. meus sonhos perderam a cor faz tempo, é tudo planejado no palpável. enquanto você imagina arco-íris infinitos eu só quero pensar que eu esteja errado, que assim sejam os planos que as pessoas conseguem alcançar.

entre tudo que posso querer para ti, desejo, acima de tudo, que você não se perca e coloque alguma cor no mundo blackn'white que está prestes a encontrar.

irevir.

te digo sem medo, os mesmos braços abertos para te deixar ir estão aqui para te acolher na volta. não sei bem como isso vem acontecendo, acho que estou ficando moderna, mas a cada dia acredito mais que maior o amor, maior a liberdade.
amor é livre, é passarinho sem gaiola que volta sempre à janela.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

botão pra esquecer.

de uma hora para a outra, sem mais nem menos, olhei para o lado e não te vi mais ali. você foi embora sem deixar aviso ou bilhete. e, admito, levou um pedaço meu, uns sorrisos e algum amor.

foi assim que nós deixamos de ser nós. enquanto me perguntam de ti pela rua, sem respostas, lembro dos dias de você do lado. de compatilhar alguma coisa assim meio sem definição, diferente demais, o que as pessoas denominam como especial. aquilo nosso que era bonito, confuso e meio sem explicação, mas nosso.

não te culpo, não te obrigo a ficar.
só queria um botão para esquecer ou te fazer lembrar, talvez uma alavanca que te faça voltar.




ps: enquanto não esqueces de mim.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

depois de algum tempo sem qualquer postagem digna, venho aqui postar não só mais um texto ou mais notícias da minha vida, mas também postar a mudança de nome e talvez de formato do blog. agora atendendo pelo endereço de "livia-f" o blog ganha o meu típico tom egocêntrico, mais do que nunca esse pedaço é meu.
- é seu? tem seu nome?
- sim, agora tem.
e assim talvez perca toda a poesia, mas espero que ganhe um tom pessoal, uma maior descontração.

chega de mais tentativas, essa é a final. é a experiência vivida a cada dia, a experiencia de ser eu, livia, magra, chata e mais sensível do que deveria.
e então, aproveitando posts antigos, dou a largada para esse novo conceito na forma de me mostrar.


ps: não se assustem se encontrarem receitas, tutoriais e indicações/críticas de filmes/musicas/livros por aqui. tudo faz parte de mim.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

que estranho é observar minha concepção de amor ser ignorada ou rechaçada pela grande maioria das pessoas. filha de jovens setentistas meio hippies, criada em um ambiente com o mínimo possível de influencias para preconceitos, aprendi logo cedo a abraçar as mais diversas formas de amor e a aceitar mesmo quando essas divergem da minha opinião. e então, depois de crescida e com a cabeça entulhada de idéias próprias sobre amor e relacionamento, bato de frente com uma sociedade que parece não entender ou fingir que não entende meia dúzia dessas idéias, por vezes a dúzia inteira.

amor pra mim é coisa séria, seriíssima. é entrega, é a verdade de alguém posta nas mãos do(s) outro(s), uma corda bamba sem começo nem fim e sem qualquer rede de proteção. já chegaram a me dizer que o nome disso é romantismo utópico, acredito que não seja mais que esperança. é, acho mesmo que amor e esperança são muito próximos, sendo o amor aquela vontade de acreditar em algo tão inteiro que mesmo dividido seja completo. o que acontece é que hoje, encontrar outro alguém que também pense assim é um trabalho hercúleo, o amor agora tem status de distração ou status algum. status, agora, é não precisar de ninguém, ter o corpo fechado para qualquer aproximação. compromisso é algo que se perdeu há algum tempo.
o que seria bom é que se a minha visão diferenciada de amor fosse só no quesito filosófico da questão, o problema é que ainda vou mais além. vou mais além por entrar no âmbito de relacionamentos amorosos. começo a fazer brotar caras de espanto quando falo que não acredito em sexualidade, acredito em preferência estética, mas que no fundo procura-se quem lhe faça bem e com esse alguém se constrói um relacionamento. não acredito na definição de papéis de um relacionamento, nem na limitação numérica de participantes ou como esses devem agir, e não acredito também em relacionamentos sem amor. numa analogia meio gauche o relacionamento pode ser como uma casa, o amor equivale aos móveis que fazem aquilo funcional e as pessoas os moradores que convivem com os móveis e com o ambiente em suas maneiras.
por muito tempo pensei que esses eram pensamentos completamente compreensíveis para os demais, mas é sempre depois de falá-los de cara limpa num grupo de pessoas que observo que as coisas não são bem assim. muitas pessoas não entendem a idéia da flexibilidade de relacionamento e confundem com falta de vergonha. outras, ainda presas nos pensamentos antigos, acusam de perda de valores, quebra do formato padrão de convívio em sociedade. o engraçado é pensar que são essas mesmas pessoas que amam pela metade, que não se entregam a alguém ou que “amam” por aparência, “amam” pelo dinheiro. que, enfim, amam de mentira.
talvez tenha pensamentos muito libertinos, muito livres de essência e muitas pessoas ainda continuam presas nas grades invisíveis dos olhos da sociedade, mas como disse antes, fui educada para não ter preconceitos e não tenho, nem dessas pessoas que discordam de tudo que acredito, tenho talvez algo próximo à pena. não por me achar dona da verdade, mas tenho pena por esse pensamento tão curto deles, por essa falta de esperança. porque, meu amigo, se não é amor em todas as suas cores e formas que vai salvar esse mundo, não sei o que vai ser.


- essa sou eu postando exercícios da faculdade no blog.

domingo, 8 de agosto de 2010

aonde os pais levam seus filhos.

cresci numa família que passa longe de tradicional. e, por isso, não quero dizer que somos hippies ou anárquicos, procuro dizer que somos diferentes do regional e atual conceito de tradicionalidade. sempre houve tarefas a serem cumpridas e algumas flexíveis normas comportamentais, até porque uma casa com seis pessoas exige, no mínimo, alguma organização. mas o que diferencia a minha criação das demais, é o fato da liberdade ter sido sempre fator presente em casa, não que ela tenha vindo inteira, jogada nas mãos de uma criança ainda sem maturidade, mas ela foi conquistável, adquirida. a única coisa que me foi exigida e estimulada durante toda minha vida, e ainda é, foi responsabilidade. não só saber o que é certo ou errado, mas ter a responsabilidade de planejar, fazer o que a vida lhe exige, mesmo que do seu jeito. e assim, mostrando responsabilidade (e um tanto considerável de criatividade) que conquistei toda a liberdade que tenho entre minha família.

não lembro de castigos ou palmadas que tenham conquistado qualquer alteração comportamental em mim, mas lembro de várias conversas com meus pais e irmãos que me fizeram sim, parar e pensar, mudar. aqui em casa não há carrasco, todos são amigos (sem que se perca o respeito) e a demonstração de autoridade jamais superou o cuidado. nunca fui impedida de fazer qualquer coisa que realmente quisesse, mas sempre fui alertada das conseqüências e em quase todas essas vezes não dei atenção e aprendi, da maneira mais difícil, como as coisas funcionam. porque, me desculpe você que obedece e continua ai sem arriscar, só se aprende indo, vendo e vacilando, não há discurso mais dolorido que uma queda, não há conselho que te faça realmente sentir o que vai acontecer. e aí encontro outro ponto que papai e mamãe passam longe dos demais, o protecionismo, a cápsula protetora que os pais costumam construir em volta de seus filhos. entenda, o problema não é proteger, é fazer isso de uma forma errada, construindo paredes de vidro que quando quebrarem cortarão a todos. e elas vão quebrar. a cada dia preso, maior a vontade de liberar-se e, então, chega o dia em que alguém ajuda a escapar ou que você mesmo consegue quebrar as barreiras, e aí os cacos vão para todos os lados. tanto você como os seus pais saem machucados, pois como humanos egoístas que somos, não conseguimos nos por no lugar dos pais que tiveram por tanto tempo aquele ser (nós) só pra eles e agora tem que dividir com o mundo, e eles não conseguem ver que ninguém é dono de ninguém, que as pessoas, mesmo as crianças e adolescentes, são livres.

as três pessoas mais incríveis que conheço são, sem dúvida, meus irmãos. devo a honra/sorte de conhecê-los, como eles são, aos meus pais, outras duas pessoas incríveis que sem pretensão e sem seguir cartilha qualquer souberam ser, literalmente, pais. eram jovens e tinham medo, mas ainda assim trabalharam duro pra formar pessoas de caráter impecável e com bastante responsabilidade. quem diria que o rapaz de cabelo bagunçado e calça xadrez e a moça de cabelo curto e ar rebelde, meu pai e minha mãe, tão diferentes das pessoas consideradas corretas e de respeito, formariam uma família tão centrada, bem objetivada e composta de pessoas tão inteligentes? talvez seja ai que está o segredo, a diferença. ambos nascidos no ceará, batizados, crismados e ateus, frutos da juventude setentista, liberais, politizados, estudados, dois batalhadores que nunca tiveram muito nos bolsos, mas o suficiente nas mãos. e foi com essa carga cultural que passaram o que eu e meus irmãos temos como norte, tendo como ponto principal a idéia de ser livre, mas vivendo em sociedade.

é aí que chego ao ponto que tento alcançar desde o título. os pais levam os filhos aos seus atos pelo o que eles passam, porque um filho é seu, mas a pessoa que ele é não é como você quer, do mesmo jeito que não se escolhe cor do olho do filho, não se escolhe se ele vai ser uma pessoa que necessita ou não de muita liberdade. o que tento dizer é que o pai escolhe o caminho que seu filho deve seguir passando pra ele as direções certas, mas não necessariamente direções fixas que funcionaram com outra pessoa. logo, se ele está seguindo o caminho errado, então o problema está com quem deveria direcioná-lo. de acordo com as direções começamos a distinguir o mundo e criar opiniões, tudo o que pensamos é influenciado por aquilo que nos foi passado pelos nossos criadores. porém, além disso, uma coisa importante que eles devem nos passar é a de deixar a própria influencia deles de lado, para que criemos uma visão própria, formando assim nossa bagagem cultural pessoal.

o que quero dizer é que se hoje sou a livia, 18 anos, sagitariana, solteira, careta, gay, liberal, estudante, atualmente contra o governo, sem religião, sou tudo isso graças ao meu pai e minha mãe, sou porque eles me fizeram assim e me levaram, naturalmente, ao melhor lugar que eu poderia estar. de bem comigo, com o mundo, e por mais brega que pareça, com a vida. sou uma pessoa completa que, tirando questões existenciais mais complexas, sabe quem é e o que quer. sei bem o quanto eles estão orgulhosos de mim e não posso comparar com o tanto que sou agradecida por eles, pelo melhor tipo de educação e relação que se pode haver.

sábado, 31 de julho de 2010

quero fazer de ti minha rotina, casar na meia-luz com lençóis brancos. deixe os papéis ou alianças, esqueça seu nome ou esqueça o meu, não tem importância. vem, porque não há quem possa te machucar aqui comigo. não há mentira, não há medo, somos apenas nós.

vamos juntos, vamos com os deuses, com nosso amor doente e sem cura. corra, fuja e case comigo, porque a cada minuto sem ser teu, sou ainda menos eu.

sábado, 24 de julho de 2010

desaprendi a ser pela metade porque fui, uma vez, inteira. não sei se por comodismo ou (mau) costume já não consigo, comigo é tudo ou nada. tu me tens nos braços ou não, sem meio termo, sem ir devagar. vou com tudo e exijo jeito, porque sou leve em meus 42 quilos, mas enquanto não me segurem direito posso me esparramar.

não me envergonho um segundo por ser romântica incurável. quero todos os tipos de amor, incluindo aquele pra levar até o fim da vida. torço a cada nova pessoa que seja aquela. crio expectativas e esperanças mesmo, porque por mais que sejamos jovens não há certeza alguma, em absolutamente nada. certeza mesmo é só a de amar alguém. amar é a única coisa que você fará até o dia de morrer, hoje ou daqui a 50 anos.

já provei de um tipo de amor que quero para todos os meus dias. fui inteira até saber que sou, sim, metade perdida esperando ser inteiramente achada ou vice e versa. agora me cerco de tudo que mais tenha sentimento e sinto pena, da forma mais cruel, de quem não sabe o que é sentir amor e viver ele da forma mais verdadeira. sinto pena de quem ainda é inteiro e sozinho.

domingo, 11 de julho de 2010

agradeço pelos dentes tortos, o suor, as manchas na pele, o cabelo bagunçado, os momentos constrangedores, as divergências de opinião e ao mau humor. porque, as vezes, o que se precisa para sentir e sorrir no fim de um dia é maior que qualquer romantismo e sentimentalismo.
é a realidade.

terça-feira, 6 de julho de 2010

"cheguei a essa conclusão. quem gosta de pronunciar palavrões e ainda acha bonito, está sujeito a se meter em merdas cada vez maiores, só para poder ter o prazer de xingar. e, baby, eu espero que a nossa seja das grandes."

"às vezes, sinto que poderia me apaixonar por três, quatro, cinco pessoas ao mesmo tempo. não a esmo. conscientemente. acho que, no final das contas, amo demais e me comprometo de menos. durante uma entrevista, uma amiga me apontou que ninguém comemora os anos de amizade por se tratar de um amor verdadeiro. relacionamentos, no entanto, não passariam de uma contagem regressiva para o fim inevitável. “olha o quanto estamos nos agüentando”. é, parabéns.

não me interpretem errado: adoro relacionamentos. tenho um problema com namoros, pois é, mas não é nada pessoal... é social. semântica. entendem? se.mân.ti.ca, sf, 1. ling estudo da evolução do sentido das palavras através do tempo e do espaço. acontece que eu não gosto do sentido que a palavra tomou através do tempo e do espaço, na sociedade. não gosto do que ela implica e tenho aversão ao que todo mundo tem. evidentemente, não gosto de namoros. gosto de memórias, pessoas e coisas só minhas."

"o fato é que está tudo bem e que tem, ainda assim, um problema. o que fica. essas coisas de você, que não foram embora, que ficaram comigo; as micro-partículas das suas mãos encostando em mim; a vibração, essa estática, do seu corpo contra a minha pele... mesmo que em planos diferentes, mesmo que numa proporção tão pequena, tão próxima do indivisível, que nem os cientistas saibam ao certo se existe. mas está lá e, dá, dá para sentir. essa proximidade iminente, sabe... “para acontecer”.

é sempre uma porra de uma sensação, algo pendente, uma coisa impalpável. e é isso que me enlouquece. não a falta, não o vazio. porque se fosse mero vácuo, se não existisse, se não estivesse em mim ou ao meu redor... não me incomodaria. o problema é que está, é que você não foi embora, você continua, aqui, em volta de mim. em planos vibratórios ou seja lá o que é isso – pois é, ainda não entendi direito... me explica de novo? –, mas é real."

- por mel m. (
http://oh-baby-coffee.blogspot.com/)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

novo.

novo, tudo novo. já faz um ano que tudo foi grande e real, e eu continuo aqui me distraindo com as pequenas coisas, tentada a fazê-las enormes. mesmo que não consiga é sempre bom o ar do novo.

sem poesia, com sorrisos e brincadeiras das mais diversas. acontecimentos já imaginados, mas sem precedentes. novos, assim, no jeito mais simples de dizer e sentir. daquele jeito que buscamos, que encanta em um segundo olhar e faz as coisas terem algum sentido de novo.

e você que deve me perguntar porque tanto encanto com o novo e eu te respondo perguntando: se não o sentimento pelo novo, o que buscamos?

segunda-feira, 21 de junho de 2010

perder o chão.

detalhes, detalhes podem ser responsáveis por toda uma edificação, por todo um inteiro. e para alguém que neles se prendem, desapegar-se é uma tarefa consideravelmente mais árdua. quando se imagina livre, então um pequeno relance faz toda diferença e traz a tona toda uma questão que se pensava esquecida, superada, acabada. não sei se é o ascendente em virgem, não sei se é por conta da criação com uma virginiana, mas desprender-se e não voltar atrás por conta de um detalhe parece para mim uma tarefa impossível, herculana.

então aquilo que era e não é mais vira uma coisa absurda, que dói, que tira pedaços que já nem sabe se existem de fato ou não, que machuca. ver o mundo se configurar diferente do tempo em que tudo era bom parece tão errado, mas já nem sei mesmo se o tempo era bom ou se a memória que anda ruim. mas e mesmo que fosse ruim, não, não aceito que tudo esteja diferente. eu ainda estou aqui, pronta pra fazer o que me for capaz. talvez tenha mudado, crescido, regredido, mas sou eu, não se muda alma ou carater, nem nada que de fato valha a pena. não se muda, não se deve mudar. não eu, não você.

quero de volta tudo o que um dia foi meu. quero pra mim, pra guardar, pra ser, pra ter e não deixar pra ninguem.
quero meu chão, meu amor.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

"se todo alguém que ama, ama pra ser correspondido. se todo alguém que eu amo, é como amar a lua inacessível. é que eu não amo ninguém, não amo ninguém. eu não amo ninguém, parece incrível. não amo ninguém
e é só amor que eu respiro."

quarta-feira, 9 de junho de 2010

blogging

tenho trabalho da faculdade amanhã, primeira aula, primeiro grupo a apresentar. e por mais que o sono esteja aqui presente, eu não consigo dormir. não quero me deitar e pensar no tanto que eu tenho que dizer, para tantas pessoas. queria ser ainda mais covarde, mandar carta, email, a quem interessa, pedir ao mundo que pare porque já não sei se tenho força pra lutar de volta. na realidade, na sinceridade mais real que possa existir, eu preciso que alguém me salve. preciso que alguém me salve dessa rotina ridícula, que alguém me salve de mim e de todas essas manias, da vida que eu levo. provavelmente esse é o único motivo de estar escrevendo isso agora, que alguém veja, que alguém coloque elmo e armadura - ou não - e que me salve.

talvez seja só um momento de desespero. aproxima-se um final de semestre recheado de solidão, não muito diferente do começo pra falar a verdade. parece que tudo começou a dar errado do nada, mas já faz tanto tempo. faz tempo que tudo anda meio pela metade, que as alegrias não passam de vodka, boates gays e algumas horas com boas companhias, mas no escuro do quarto não há nada mais que um quarto no escuro. não há ninguém comigo, nem você, nem ela, nem qualquer que seja. além do meu pessoal, não há mais ninguém. ninguém que me aguente, ninguém que eu aguente. e quem disse ainda hoje mais cedo que nasceu sozinha, agora implora por companhia qualquer, uma mão leve nos cabelos recém lavados, um olhar interessado. agora, quero amor, mas tendo em vista que não tenho poder algum de barganha, carinho serviria.

[engraçado como as coisas tem a capacidade de serem como castelos de areia, em um segundo, em uma marola, tudo está derrubado. e já não há mais tempo, não se pode juntar os pequenos grãos, eles nunca se formarão de novo, não da mesma forma. e o que resta é.]

passa ou parece.

domingo, 6 de junho de 2010

maybe three seconds is enough for my heart to quit it.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

por nós.

te vejo de manhã, sol refletido nas tuas carnes brancas. olho a sala vazia, invadida pela pobreza e te vejo sem roupa, ali no meio, perto das janelas sem cortina. sem cobertas, dando para ver através, mas sujas, turvas, as duas.

você, a moça que não fala o que pensa, olhar intimidador de quem procura assustar pra não admitir o proprio medo. me diz, vai, me diz, por que você sempre acaba fugindo? some e retorna, sem avisar, sem deixar bilhete qualquer. tenho sempre que me esgueirar pelo corredor, pra te ver nua ao nascer do sol, pra acompanhar teus passos em direção a porta que nunca consigo definir se são os últimos ou não.

não me deixa. já pensei em te dizer isso assim, sem qualquer drama, sem qualquer sentimento além desse, de não te querer longe, de querer ver tua pele refletindo a claridade. não quero te fazer de abajur na minha sala, te ter lá dia após dia, eu só não quero que você vá embora sem qualquer explicação, não me deixe.

me avisa, poxa. me diz quando você volta. penso que poderia fazer café da manhã, se você não quiser não faço nada, finjo não ter expectativas e que te encontrar na sala ao voltar do trabalho seja uma supresa. já te deixo até a chave, dentro do jarro, debaixo do tapete. eu só não aguento mais isso, essa falta de esperança que se apodera de mim logo quando eu te vejo, esse meu saber de que você vai embora. pior, saber que eu não sou o suficiente pra te impedir.

poderia te falar tudo isso, sempre poderia. mas não hoje, hoje acordei cedo pra te ver ainda nua na janela e te vi, te vi vestindo a roupa e saindo. te vi atravessar a rua e então fui. fui levar minha vida sem você, porque a vida com você não é mais que noites de sacanagem e poesia, amor e carne.

fiz café, sentei na sala e fiquei esperando qualquer coisa, qualquer cantar de passarinho ou batida de carro na rua, coisas assim que não acontecem. ouvi um barulho vindo de fora, com preguiça olhei ao redor. te vi na minha porta, emanando luz, com um vaso numa mão, chave na outra.

todas as vezes que fui, fui por ti e voltei por mim. mas existe um ponto onde mim e você já não existe, fico por nós. ela me disse, no meio da sala, entre sorriso e lágrimas. então fica, respondi tirando-lhe o jarro da mão.

terça-feira, 25 de maio de 2010

senhor não, meu nome é aldo.

como o nome, ele era pequeno, franzino, quase careca e bonito. pernas finas, corpo bem tratado, ombros consideralvemente largos, toda uma composição que poderia dar errado, mas não. apresentou-se andando sobre a linha tênue entre ser rude e sério, sem perder o charme.

é esotérico, budista, dramaturgo, yogue, inteligentíssimo, simpático, conversador e disperso. esse era o rapaz que estava em minha frente, parecido com um escritor querido e que me encantava em diversas maneiras. dizia idade, ocupação e qualquer outra coisa sem medo, era um livro com capa e conteúdos incríveis, acessíveis.

sorriu como criança enquanto mexia as mãos aleatoriamente, explicando alguma coisa, deixando aparecer uma tatuagem perto dos músculos do braço e anunciou sem medo que há mais do que isso que podemos ver,
estaria ele certo?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

fim de festa.


você já deve ter passado por isso. aquele momento em que seus amigos, ou companheiros, já estão bêbados ou chapados demais, espalhados sem qualquer ordem pelos cantos. bebiba jogada, guimbas de cigarro pelo chão e silêncio.

o barulho de fora afeta a todos, mesmo que estejam, sem qualquer execeção, cada um voltados ao seu interior. é aquele momento em que não se sabe quem é mesmo o dono de quem. pessoas juntas, unidas contra um frio que não existe realmente. carinhos, abraços, beijos, amigos que viram amantes e novas pessoas que viram amor de vida. onde ninguém se olha, ninguém se fala, ninguém se importa, ninguém julga. onde todos são mais um, juntos com mais outros, procurando um calor, de alma, de vida. uma vontade, talvez amor.

e tudo, mesmo que bambo e guenzo, permanece em equilibrio, o silêncio, o vento que atinge, a junção de corpos e todo o resto, toda a busca, tudo calmo absortos na inquietude do fim. alguém se move, os abraços se acabam, os beijos são deixados de lado, até que alguém fala algo assim que não devia ser dito, mas que não se pode deixar de dizer. então, toda a organização sem ordem é desfeita, todos se afastam e se olham, se vêem, se julgam. e dá-se o começo de mais outra festa.

terça-feira, 18 de maio de 2010

abro os olhos e me deparo com a imagem embaçada de seu rosto calmo, sorrindo, para mim.

enquanto me acostumo com a claridade que bate em suas bochechas, deixando-as ainda mais lindas, sorrio de volta, para você. sua mão leve passa pelas minhas costas nuas, me aninho perto de seu colo enquanto você comenta como estou quente e que eu não respondo, ainda é muito cedo para pensar em piadas safadas. acompanho por um tempo as batidas do seu coração, mas minha respiração acelera, me afasto, então, e observo seus olhos, nariz, boca. todos meus. beijo cada um deles. devagar, não há pressa.

seus lábios são lindos, sabia? a forma como você aperta teu corpo contra o meu quando meus lábios percorrem teu pescoço também. queixos, ombros, braços, barrigas e pernas ainda com pequenos dentes desenhados, nosso segredo risonho, nossa maneira animalesca e carinhosa de dizer que nos possuimos e, de fato, o fizemos, o fazemos, o faremos. coloco os fios de cabelo fujões atrás da sua orelha, com o mesmo cuidado de sempre, olho com olho, sorriso com sorriso, então, olhos fechados, lábio com lábio, língua com língua. eu com você, nós, só.

abro os olhos e me deparo com a imagem de um cogumelo verde, sem qualquer expressão, olhando, para mim.

domingo, 16 de maio de 2010

domingo é o dia do juízo final, da semana, para mim e para todos os jovens imediatistas, ensandecidos pelo calor das pessoas e cores do mundo. é quando, entre as dores da ressaca e uma tarde inerte, você finalmente tem, não tempo, mas paciência para pensar do que foram aqueles seis dias anteriores. ou melhor dizendo, o dia anterior.

tudo o que poderia ter sido e não foi, todas as escolhas mal pensadas e ainda assim tomadas. todas as boas escolhas, ótimas, em algumas ocasiões. os corpos, os lugares, tato, olfato, paladar, de uma tarde e noite que parecem que foram feitas para serem aproveitadas. tantos lugares visitados, tantas pessoas, tantos sentidos misturados. um sábado poderia ser tranquilamente uma vida, inteira, em menor escala.

e então, depois de uma dormida justa ou não, acorda-se para outros dias que conspiram na chegada de mais um sábado, mais uma vida e logo, mais um juízo final. e acaba que você nunca sabe, se foi certo ou errado, se valeu ou não a pena, mas não tenha medo, nem se arrependa.. faltam apenas mais seis dias.

domingo, 9 de maio de 2010

eu poderia te inventar.

chegar em casa de um dia cheio e te ligar, falar que foi bom te ver, que você estava linda. posso cheirar minha camisa e sentir teu perfume, como é mesmo o nome dele? sereno? algo assim, como você, algo leve, prestes a ficar intenso.

vou sentar à mesa e te escrever cartas, futuras cinzas, pra dizer o quanto gosto de você. a frustração vai me atingir por não conseguir demonstrar em palavras, em ilustrações ou forma qualquer. com o celular em mãos, vou te ligar mais uma vez, a desculpa? ouvir sua voz. e vai ser sincero, como em todas as outras vezes.

teu jeito vai me acalmar, o falar compassado, o ritmo lento de encaixar as palavras perfeitas nas frases ditas. todo o imediatismo do meu amor imaturo vai se dissipar, porque ali, aqui, com você, eu poderia ficar para sempre. para sempre e mais.

então, levantarei o olhar para tela do computador. um notepad escrito, onde a primeira frase é "eu poderia te inventar" e sem dúvidas saberia que eu poderia sim, inventar você.

é uma pena que você exista, apesar de minhas camisas terem apenas meu perfume, minhas cartas ainda não terem um destinatário e a agenda do meu celular não possuir teu número.

- mas eu sei onde você compra pão.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

queria alguém pra segurar a mão e ficar em silêncio. queria qualquer paz assim, compartilhada e sem necessidade de palavras. queria, sem certeza de um futuro e sem necessidade de um passado, apreciar um presente sóbrio. pode ser você, pode ser alguma outra, a questão é que agora eu quero alguém que me traga, acima de qualquer coisa, tranquilidade.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

a mulher do pianista.

tinha o olhar sério, compenetrado. parecia, naquele momento, enxergar o mundo inteiro ou absolutamente nada. rosto duro, imóvel, frio. o queixo reto e totalmente em contração dava-lhe a impressão de que era inteiro de madeira, fundido ao piano de mogno desgastado. não era oco. vezenquando fechava os olhos enquanto os dedos, em suas luvas pretas, deslizavam graciosamente pelas teclas. abri-os de novo para não encontrar os da mulher sentada ao seu lado.

ela era, de maneira banal, feia. talvez fosse mais ou menos que isso, mas quem repara em rostos e corpos não repara em gestos e feitos. andava com dificuldade, tinha pernas tortas e disformes. ficava sentada ao lado do homem, olhava-o tocar sem qualquer interesse, entediada. conhecia bem tanto os dedos ágeis como as músicas tocadas. para ela, aquele repertório não passava de rotina e dia-a-dia. fitava as pessoas dali enquanto alternava o olhar pelo lugar ao seu redor.

paredes amadeiradas, bancos ao redor de um balcão, mesas, pessoas. as mais diversas, casais, amigos, colegas, interações. todo um micro-universo embalado pelos toques nas teclas preto-e-brancas. algumas apreciavam, outras agiam indiferentes como a mulher feia, mas de qualquer forma a música embalava o ambiente e todos ali.

entre tantos acordes, dedos que encontravam teclas, pés alcançando os pedais, a mulher feia se move. ela se levanta, com dificuldade, ela sente dor, seus pés disformes parecem que não vão agüentá-la, mas ela caminha até o balcão. pega uma garrafa de água e vai até o começo da calda do piano de mogno, onde há um copo pousado. abre a garrafa e despeja o conteúdo no copo de vidro, enquanto o pianista abre os olhos e não encara nem o mundo, nem o nada. ele a olha e sem perder o tom, agradece pela água, por ela.

-obrigado.

domingo, 25 de abril de 2010

será que ela usa o sorriso secreto? será que os discos que tocavam na velha vitrola do quarto de lençois brancos e meia luz continuam os mesmos? quais são as cores que se destacam em dias cinzas agora? quem sabe as suas horas e, de pronto, teus dias?
e a cada resposta obtida mais uma pergunta surge, menos certeza e mais confusão.

lembro de domingos com teu perfume pelo quarto. lembro do tempo em que teus planos, eram meus. que tudo era certo, assertivo. e então?

"pois é, não deu. deixa assim como está sereno.. pois é de Deus tudo aquilo que não se pode ver, e ao amanhã a gente não diz, e ao coração que teima em bater.. avisa que é de se entregar, o viver. pois é, até onde o destino não previu, sei mas atrás vou até onde eu conseguir. deixa o amanhã e a gente sorri, que o coração já quer descansar.
clareia minha vida, amor, no olhar."

terça-feira, 13 de abril de 2010

no such thing.

crie uma imagem. seja ela como for, seja ela como você queira. sem rosto, sem corpo definido, loira, ruiva, alta, educada, inteligente. crie, invente.

produza uma pessoa que não existe, construa a seu molde. diga que uma pessoa daquela forma fará parte do seu futuro e se atenha a isso, com força. pense em como você seria bom pra ela, curaria traumas, faria café da manhã. casaria.

visite, na sua mente, essa pessoa todo dia. dedique musicas à ela, imagine tardes do mais sensacional sexo no sofá, leia livros que provavelmente a agradariam e aprenda receitas que gostaria de provar com ela. divida com seus amigos a não-existencia dessa pessoa, de como tudo seria melhor se ela não fosse imaginação e procure em casa pessoa que você se relaciona um pouco dela.

pronto, você já encontrou seu par perfeito.

(e perdeu todos os outros "imperfeitos")

domingo, 4 de abril de 2010

ela era outra pessoa, sabe? os olhinhos se estreitavam no sorriso tímido, ela tinha medo de mostrar os dentes que ali viviam acompanhadados das hastes de metal de um aparelho dentário. com sorriso tímido ou não, ela era linda. suas mãos corriam as minhas com doçura sem igual, levava meus dedos a sua boca e fazia parecer que não eram só eles que estava em contato com seus lábios, mas meu corpo por inteiro.

doce, sem um amargo sequer, foi assim que ela aterrissou na minha frente como qualquer bom avião, se me permitem a gíria grosseira. foram poucos dias até que ela como qualquer doce mal coberto, mal assegurado, começasse a amargar. não, não, não é que ela tenha mudado, ficado feia, grosseira ou absurda. ela virou nada mais do que ela mesma, e eu que conhecia tão pouco dela quis ser absorvido por aquilo, sem perceber que na verdade ela não me deixaria entrar.

acabei por ir junto com ela, fechando cada porta que havia entre nós, mas a última, ela o fez só, estava tão forte, tão inteira e eu que juntava meus pedaços só assisti sem perceber que, nesse meio tempo, ela já não era doce, nem amarga. acre-doce.

domingo, 28 de março de 2010

números primos.

o céu está lindo, e aqui, só, sinto que ele é meu e apenas. não o divido, não mais. eu que por longos meses procurei incansavelmente alguém pra dividir abraços, cama, quarto e céu, eu que não desisti do amor. olho a minha frente e vejo cor depois de dias inteiramente cinzas. amarelo, roxo, azul, laranja, estão todas ali e são minhas, só minhas. já não quero, já não procuro, dividir.

não quero dividir nada, não quero que dividam comigo. quero inteiro, quero tudo e não pretendo ceder metades. o mundo está girando e o céu se move, espero só a hora chegar.

e quando chegar darei a quem merecer, ou não, meus inteiros, completos e indivisíveis.




"não consigo mais aceitar relações pela metade. em outras palavras, raspas e restos não me interessam." (caio fernando abreu)

quinta-feira, 25 de março de 2010

eu pude te dar um amor tranquilo e você pôde.. bem, você bem sabe o que pôde fazer.

e o que fez. e o que fiz.

quarta-feira, 17 de março de 2010

rouge.

as luzes continuam vermelhas, você me olha ainda sem roupa na poltrona no fundo do quarto, enquando calço o segundo sapato do par. pelo canto do olho, vejo você me olhando, te encaro e em milésimos de segundos você desvia o olhar, para baixo, para longe, suspirando e entortando a boca.

pergunta-me aonde vou.
- você é lindo, sabia?
falo sem dar ouvidos. você me sorri, mas insiste na pergunta. demoro-me abrindo o maço e pegando um cigarro, me adianto à sua tentativa de acendê-lo.
- não, não faça assim. não me pergunte aonde vou, não acenda meus cigarros.
meu cigarro queima veloz, marca vagabunda. como quase todo o resto, cama, lingerie, maquiagem e, principalmente, eu.
- por que você não me conta alguma coisa sobre você?
- você já pensou que pode não existir isso? não existir alguma coisa para que eu possa te contar?
você ri, um riso tristinho. esse é o momento que você desiste, como sempre, e diz.
- você não tem jeito.
- eu não tenho muitas coisas.

olho para você com os olhos cheios de pressa. fica cada vez mais insuportável ficar com você ali, imploro, sem falar, para que você se vista e você sabe disso.
- se você quer tanto que eu me vista, por que você não pede?
você diz e ri, achando-se bastante engraçado, enquanto se veste. eu jamais lhe pediria algo e você, também, sabe disso.

já arrumado e saindo pela porta, você me olha com os olhos brilhantes e sorri um sorriso incrível, é, você é realmente lindo. finjo não te notar indo enquanto aplico maquilagem, em frente ao espelho. lembro que já fui assim, viva, naquele tempo.

as luzes eram brancas e eu o olhava, ainda sem roupa na poltrona no fundo do quarto, enquanto ele calçava o segundo sapato do par.
mas as luzes continuavam vermelhas.

segunda-feira, 8 de março de 2010

the art of leaving.

o ônibus balançava. um solavanco e ela quase caia, segurou desajeitadamente e me olhou com uma careta de força e descontrole. eu olhava pra ela com aquela careta típica de possuidores de fotofobia, olhos espremidos, minúsculos, várias rugas se formando. sentei ao lado da janela, ela sentou ao meu lado.

era meio dia e o ônibus balançava. estava cansado e sentia o cheiro dela chegar até mim. o sono bateu e resolvi me espreguiçar, coloquei, em ato de puro egoísmo, o braço na cadeira dela, por cima de seus ombros. ela me olhou e eu permaneci imóvel, olhei para a janela e não me movi um centímetro, sem mudar de expressão. segundos depois sinto um peso em meu peito. devagarzinho, ela aproximava-se e ia recostando-se, delicada, sem pedir licença.

deixei-a ficar completamente em contato comigo, coloquei meus braços em seus ombros e a trouxe para mim. éramos um homem e uma mulher abraçados em um ônibus, um homem carente e uma mulher carente, exaustos acima de tudo. não sei por ela, mas por mim falo que estava exausto daquilo, de interações com palavras nulas, de rostos sem carinho, de amar e não amar.

a luz do sol quente batia em meus braços, ela brincava com seus dedos por ali, calor de sol, calor de pele. havia tempo que não via tamanha sinceridade em algo costumeiramente tão banal, pele com pele. ela me olhava e sorria.e então o ônibus parou, a porta se abriu.

sentia tanto calor, levantei-me devagar, não encarei, não sorri e pulei pela porta enquanto o carro partia em movimento. senti a luz do sol nos olhos e eles ficaram miúdos e enrugados, andei alguns passos, concentrado, inabalado, acostumado.

o tempo estava tão frio.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

excruciating pain.
sempre gostei dessas duas palavras colocadas juntas. são bonitas, não? repito-as algumas vezes por dia, em alguns determinados dias.

queimaduras, com fogo, com gelo. cortes, com facas, com unhas. mordidas, atropelamentos, saltos perigosos, já provei um pouco de todos. senti um pouco de cada uma dessas dores, surtei, suei, sarei. sou forte, sou uma mulher de fibra, tenho meus vinte e muitos anos e além de dor, não tenho mais nada. não sinto mais nada.

acordo em um quarto cinza, saio para rua clareada por um céu nublado. todos os rostos são pálidos, todos menos o aquele seu que já foi meu um dia. seja qual for a sua cor agora, seja com quem for seu dia agora, não acredito que vá fazer a menor diferença. meu rosto agora é nada, sem cor, sem dor. obrigo-me a sentir, mas o vazio sempre torna a voltar.

não me falta amor, não me falta você. o que me falta é sofrer a dois, é a emoção de um dia que muda de cor, dependendo não apenas do meu humor. e, em um mundo onde não vejo um olhar que faça o céu azul, um sorriso que faça o sol brilhar, a única cor que parece se destacar, algumas vezes por dia, em alguns determinados dias, é o vermelho. vermelho de um sangue que correndo me faz ver, não há dor pior do que um coração inacelerável.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

todo dia sempre igual. verticalizam o corpo, dão um forçado 'bom dia', mas os olhos sorriem. olham-se para definir quem vai primeiro escovar os dentes. brigam na hora do café pela louça esquecida no dia anterior, tocam de leve as mãos quando têm o mesmo impulso de pegar o jornal, as bocas sorriem.

rotina, uma das palavras mais proximas ao amor. não necessariamente a rotina de um casal já formado, mas o simples fato de alguém te invadir de tal forma a entrar na sua vida, no seu dia-a-dia, na sua rotina. depois do café ligar para pedir desculpas, respeito. a tarde ele liga avisando aonde vai, confiança. mais a noite, os dois cancelam qualquer coisa para dar um boa noite ao outro, carinho. e então, sem mais nem menos, sem perceber, estão os dois inseridos, introduzidos nas rotinas um do outro, amor.

e não existe maior declaração do que isso. abrir mão de seu tempo, de seu jeito de lidar com as coisas, para deixar alguém que há algum tempo não estava ali, alguém que há pouco tempo não participava tão ativamente da sua vida, deixar esse alguém ganhar uma parte em seus dias e em tudo o que você faz neles.

e não existe nada como poder fazer essa declaração todo dia.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

desenho, cecília meireles.

Fui morena e magrinha como qualquer polinésia,
e comia mamão, e mirava a flor da goiaba.
E as lágrimas me espiavam, entre os tijolos e as trepadeiras,
e as teias de aranha nas minhas árvores se entrelaçavam

Isso era um lugar de sol e nuvens brancas,
onde as rolas, à tarde, soluçavam mui saudosas...
O eco, burlão, de pedra, ia saltando,
entre vastas mangueiras que choviam ruivas horas.

Os pavões caminhavam tão naturais por meu caminho,
e os pombos tão felizes se alimentavam pelas escadas,
que era desnecessário crescer, pensar, escrever poemas,
pois a vida completa e bela e terna ali já estava.

Como a chuva caía das grossas nuvens, perfumosa!
E o papagaio como ficava sonolento!
O relógio era festa de ouro; e os gatos enigmáticos
fechavam os olhos, quando queriam caçar o tempo.

Vinham morcegos, à noite, picar os sapotis maduros,
e os grandes cães ladravam como nas noites do Império.
Mariposas, jasmins, tinhorões, vaga-lumes
moravam nos jardins sussurrantes e eternos.

E minha avó cantava e cosia.
Cantava canções de mar e de arvoredo, em língua antiga.
E eu sempre acreditei que havia música em seus dedos
e palavras de amor em minha roupa escritas.

Minha vida começa num vergel colorido,
por onde as noites eram só de luar e estrelas.
Levai-me aonde quiserdes! - aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

eu gosto de lembrar de ti. ando ruas que teus pés tocaram, me vejo só em espelhos que me via contigo, sento nas cadeiras que ocupamos, te procuro sempre, em todo lugar, sem achar.

já não sei dizer o que significa isso, carinho, consideração, paixão, amor. será?! ou será só, mais uma vez, minha mania de aumentar tudo, de sensibilizar tudo, de intensificar. parece que quanto mais eu tento ser simples, mais composta fico, mais complexa, mais difícil. tudo vira um labirinto para mim, enquanto o que realmente importa escapa pela tangente.

foram bom dias. dias de carne-osso-sangue-coração. dias de amor eterno com prazo de validade. dias de paixonite, talvez da mais real possivel. e ficaram memórias, só boas. talvez por isso ainda procure nas tuas arestas um pouco de mim, já que para você estar aqui de novo é tão fácil, mas pra eu estar aí.. ih, acho que isso se tornou complicado.

sei que não devo e, muitas vezes me privo, mas ainda assim não paro de te procurar, mesmo sem saber o motivo, mesmo sem saber aonde ir. de qualquer jeito ou direção, quero estar perto.

eu tinha um ultimo pedido.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

manchas na lua.

poderia dizer muitas coisas, mas acredito, e quando digo acredito realmente o faço, pois não acredito-acho, acredito-confio, acredito que nessa noite de lua cheia o melhor, o que deixaria tudo mais pleno, seria permanecer em silêncio. aproveitando.

existe uma lua me olhando, me julgando quem sabe, são jorge contra um dragão lá, nós contra vários por aqui. dragões velhos que já perderam a inocência de ser carpa, de nadar contra a corrente. dragões que em si aceitam a maldade, a falsidade, a mentira e por crueldade, talvez, fazem questão de espalhá-la. e já diziam que os dragões não conhecem o paraíso, mesmo que voem, mesmo que alcancem, eles não podem entrar.. há muita vaidade, muito julgamento, muita ruindade. nem tudo que tem asa é anjo, por mais que se disfarce.

encontro dragões em toda esquina.
por mais que seja evitado, existe sempre o momento em que você também vira um, não necessariamente para sempre, mas somos todos um pouco loucos, um pouco ruins, um pouco pobres, depende apenas do relógio e do pulso, firme ou não.

uma vez, virei carpa para então virar dragão. senti a pele se fazer em escamas, fortes e sensíveis ao mesmo tempo, mas adaptáveis. ganhei rabo, nadadeiras e a correnteza que carregava meu corpo de pernas e braços já parecia mais fácil de se transpor, segui em frente, nadando. e quando cheguei aonde queria, depois de vários tempos nadando contra águas fortes que me batiam a face e penetravam boca e olhos, mas já não me faziam afogar, quando cheguei aonde a correnteza pára e tudo ao redor é novo e desconhecido, senti se sobressair da minha pele o que esperei que fossem meus braços e pernas de volta. não eram. eram garras, e de minhas costas asas, que cresciam e então de minha boca saiu fogo e eu tinha força. e com ela, fiz do todo o novo, todo o meu. me impus e não propus, ordenei, pois era um dragão. e então, caiu a noite e não adiantou quanto fogo saia por minhas narinas, foi frio e solitário.

frio e só, perdi garras, asas, fogo, ganhei pernas, braços e coração. porque quando sozinho, não se ouve mais tão forte o barulho da correnteza ou do novo mundo, você ouve um pulsar fraquinho, quase parando. um pulsar guerreiro que ainda fraco tenta expulsar tudo o que há de dragão. por mais que a determinação, a vontade de passar por cima da carpa seja incrível, o que vem depois, as garras, asas e fogo de dragão que vêm depois são o retrato da destruição. e toda carpa já é sim um pouco dragão e todo mundo é sim um pouco carpa. é uma questão de pulso.

nem nadando, nem voando se alcança o paraíso. talvez pulsando.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

é madrugada, eu não consigo dormir e tive vontade de te ligar, mas não acho mais tão justo sempre te contar dos meus romances fudidos e te fazer aguentar tudo isso. então, resolvi escrever essa carta, que a original nunca chegará a você. são um bando de letras pequenas espremidas atrás de uma folha de um calendário de junho de 2009. um bando de pequenas letras espremidas que, por mais que eu tente escrever outras coisas e assuntos, não cansam de juntar e transformar algumas letras na palavra que me causa toda a atual aflição.

escuto Abril enquanto escrevo, Abril e Esteban. tento bolar planos do que farei ao chegar na Minha Fortaleza que eu tanto gosto, não só na cidade, mas na fortaleza emocional também, onde tenho quem me aguente nessas péssimas noites como essa.

pensei por um segundo que deveria estar escrevendo para pessoas em especial, mas acho que é como minha música-vício, "pianinho", diz: "por mais que eu cante, escreva, toque.. não vai dar." sabe, as vezes tenho nojo das pessoas. mas tenho nojo de mim também por isso, nunca cheguei a verbalizar. quem sou eu pra julgar? eu sou só alguém com um eu-lírico insone que em madrugadas amargas encarna um caio f. fajuto que escreve cartas-para-não-serem-entregues.

só alguém que se apaixona, se entrega e morre um pouco todo dia, para toda noite saber que viveu pelo menos um pouco.

nada menos que saudade,

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

madrugada atracada.

- alô?


voz sussurrada no telefonema madrugueiro. coração arranca, incontáveis batidas por minuto, a gota de sangue do dedo mínimo já está na orelha. sorriso se abre e parece que não se fecha mais, empacou. ali, porto seguro não-tão-seguro assim. mas que tem uma bela vista, isso tem. porto lindo, com direito a farol e nenhum navio atracado. nem sempre vazio, mas não há nada ocupado por ali. ainda não.

o sol brilha, mesmo sendo noite de lua rasa, escondida nas nuvens recheadas de água. o vento sopra forte no quarto, enquanto as janelas estão fechadas. tudo tão natural, sincero, sem delongas. conversas bobas e tranquilas, nomes repetidos escritos na escrivaninha. cuidado com o braço, está apagando o número do telefone. meça palavras, não assuste, mas não censure seus movimentos, vá.

dias de pressa com pausas, para pensar, para falar, para ver. dias de pausas sem pressa, talvez no futuro. mel roubado de colmeias, girassóis colhidos no vizinho. nada mais errado do que estar sempre certo. animais ariscos, arriscando. um risco, uma tentativa e então, quem sabe, baixamos as âncoras e ficamos por aqui, pelo píer.


- alô.

arquivo.