terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

excruciating pain.
sempre gostei dessas duas palavras colocadas juntas. são bonitas, não? repito-as algumas vezes por dia, em alguns determinados dias.

queimaduras, com fogo, com gelo. cortes, com facas, com unhas. mordidas, atropelamentos, saltos perigosos, já provei um pouco de todos. senti um pouco de cada uma dessas dores, surtei, suei, sarei. sou forte, sou uma mulher de fibra, tenho meus vinte e muitos anos e além de dor, não tenho mais nada. não sinto mais nada.

acordo em um quarto cinza, saio para rua clareada por um céu nublado. todos os rostos são pálidos, todos menos o aquele seu que já foi meu um dia. seja qual for a sua cor agora, seja com quem for seu dia agora, não acredito que vá fazer a menor diferença. meu rosto agora é nada, sem cor, sem dor. obrigo-me a sentir, mas o vazio sempre torna a voltar.

não me falta amor, não me falta você. o que me falta é sofrer a dois, é a emoção de um dia que muda de cor, dependendo não apenas do meu humor. e, em um mundo onde não vejo um olhar que faça o céu azul, um sorriso que faça o sol brilhar, a única cor que parece se destacar, algumas vezes por dia, em alguns determinados dias, é o vermelho. vermelho de um sangue que correndo me faz ver, não há dor pior do que um coração inacelerável.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

todo dia sempre igual. verticalizam o corpo, dão um forçado 'bom dia', mas os olhos sorriem. olham-se para definir quem vai primeiro escovar os dentes. brigam na hora do café pela louça esquecida no dia anterior, tocam de leve as mãos quando têm o mesmo impulso de pegar o jornal, as bocas sorriem.

rotina, uma das palavras mais proximas ao amor. não necessariamente a rotina de um casal já formado, mas o simples fato de alguém te invadir de tal forma a entrar na sua vida, no seu dia-a-dia, na sua rotina. depois do café ligar para pedir desculpas, respeito. a tarde ele liga avisando aonde vai, confiança. mais a noite, os dois cancelam qualquer coisa para dar um boa noite ao outro, carinho. e então, sem mais nem menos, sem perceber, estão os dois inseridos, introduzidos nas rotinas um do outro, amor.

e não existe maior declaração do que isso. abrir mão de seu tempo, de seu jeito de lidar com as coisas, para deixar alguém que há algum tempo não estava ali, alguém que há pouco tempo não participava tão ativamente da sua vida, deixar esse alguém ganhar uma parte em seus dias e em tudo o que você faz neles.

e não existe nada como poder fazer essa declaração todo dia.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

desenho, cecília meireles.

Fui morena e magrinha como qualquer polinésia,
e comia mamão, e mirava a flor da goiaba.
E as lágrimas me espiavam, entre os tijolos e as trepadeiras,
e as teias de aranha nas minhas árvores se entrelaçavam

Isso era um lugar de sol e nuvens brancas,
onde as rolas, à tarde, soluçavam mui saudosas...
O eco, burlão, de pedra, ia saltando,
entre vastas mangueiras que choviam ruivas horas.

Os pavões caminhavam tão naturais por meu caminho,
e os pombos tão felizes se alimentavam pelas escadas,
que era desnecessário crescer, pensar, escrever poemas,
pois a vida completa e bela e terna ali já estava.

Como a chuva caía das grossas nuvens, perfumosa!
E o papagaio como ficava sonolento!
O relógio era festa de ouro; e os gatos enigmáticos
fechavam os olhos, quando queriam caçar o tempo.

Vinham morcegos, à noite, picar os sapotis maduros,
e os grandes cães ladravam como nas noites do Império.
Mariposas, jasmins, tinhorões, vaga-lumes
moravam nos jardins sussurrantes e eternos.

E minha avó cantava e cosia.
Cantava canções de mar e de arvoredo, em língua antiga.
E eu sempre acreditei que havia música em seus dedos
e palavras de amor em minha roupa escritas.

Minha vida começa num vergel colorido,
por onde as noites eram só de luar e estrelas.
Levai-me aonde quiserdes! - aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

eu gosto de lembrar de ti. ando ruas que teus pés tocaram, me vejo só em espelhos que me via contigo, sento nas cadeiras que ocupamos, te procuro sempre, em todo lugar, sem achar.

já não sei dizer o que significa isso, carinho, consideração, paixão, amor. será?! ou será só, mais uma vez, minha mania de aumentar tudo, de sensibilizar tudo, de intensificar. parece que quanto mais eu tento ser simples, mais composta fico, mais complexa, mais difícil. tudo vira um labirinto para mim, enquanto o que realmente importa escapa pela tangente.

foram bom dias. dias de carne-osso-sangue-coração. dias de amor eterno com prazo de validade. dias de paixonite, talvez da mais real possivel. e ficaram memórias, só boas. talvez por isso ainda procure nas tuas arestas um pouco de mim, já que para você estar aqui de novo é tão fácil, mas pra eu estar aí.. ih, acho que isso se tornou complicado.

sei que não devo e, muitas vezes me privo, mas ainda assim não paro de te procurar, mesmo sem saber o motivo, mesmo sem saber aonde ir. de qualquer jeito ou direção, quero estar perto.

eu tinha um ultimo pedido.