quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

amor inteiro.

isso é meio errado, meio fudido, meio torto, meio dúvida, meio sério, meio felicidade, meio sem sentido, meio com objetivo, meio interessante, meio interesseiro, meio talvez, meio completo, meio atravessado, meio doído, meio certeza, meio leve, meio uma coisa, meio outra coisa, meio decidido, meio confuso, meio chororô, meio indo, meio já sendo, meio comprometimento, meio metade, meio um quarto, meio entregue, meio coração, meio pulmão, meio fígado, meio eu, meio você. amor inteiro.

sábado, 19 de dezembro de 2009

e eu trago você que nem a um cigarro, trago você para perto e guardo toda a fumaça em mim. deixo ela deteriorar fígado, rim, pulmão, coração. deixo ela tomar lugar, até que, em mim, só fumaça haja. e assim, ela se transforme em coração, pulmão, rim, fígado e pulse e respire por mim, em mim.. sabendo que, no final, dentro de mim só haverá você.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

as vezes, quem sente muito por dentro, sente saudade de sentir por fora. as vezes um banho gelado no escuro basta para que todos os músculos tremam e você tente controlar o seu corpo e sinta. as vezes.. não.
-ei, me deixa! sai daqui! vai atrás daquelas meninas que mais cedo vieram atrás de ti. vai!
ela dizia, balbuciando as palavras, naquele tom específico de quem está bêbado e entediado. olhando-a, dominado de raiva, eu ainda consegui achá-la uma das coisas mais lindas do planeta. incrível isso, eu sendo um bobo, até quando ela me insulta.

continuo segurando minha cerveja, olhando os olhos dela. cabelo bagunçado, grudado no rosto adentrando a boca, maquiagem borrada, algumas lágrimas, ela continua gritando disparates enquanto tento tranquiliza-la, sem sucesso. existe um ponto em que eu desisto, sempre existe. desisto e viro as costas, saio andando, ela não quer minha ajuda.

saio andando por aquelas ruas de sempre, de sábados. mão dadas, sorrisos, beijos, duas pessoas sendo uma, várias pessoas sendo ninguém. e eu, aqui, com o coração na mão, na sua mão. e, da mesma forma que sempre desisto, volto atrás. não tenho problema nisso, nem nunca tive. volto atrás e corro, passo por seguranças e entro no inferninho que erroneamente te deixei. te apanho pelo braço, te levanto e sorrio, para ti.

não me importa se você tinha razão ou se era que tinha. não importa que você se descontrole, que você seja assim, meio louca. o que importa é que eu sou paciente, bobo e que sempre volto atrás. atrás por você e por mim. para nós. para te ajudar, para me ajudar.

domingo, 13 de dezembro de 2009

"e não parecia bicha nem nada: apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o meu, que por acaso era de homem também. eu estendi a mão aberta, passei no rosto dele, falei qualquer coisa. o quê, perguntou. você é gostoso, eu disse. eu era apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o dele, que por acaso era de homem também."

- terça-feira gorda, caio f.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

tempo.

olhava para baixo, não era timidez. era mesmo falta de vontade, já não acreditava e procurava não esperar. não esperava mais o encontro, o reconhecimento de olhares, quando duas almas não podem mais ficar paradas, ou separadas. quando elas tem que, indubitavelmente, se juntar, numa noite sem lua, num dia de sol quente

apressada, deixava as braços passearem soltos ao lado do corpo. não era tensa, mal amada ou abandonada, incrédula, talvez. mas nunca, em qualquer hipótese, insensível. sentiu um puxão, na mão direita. voltou-se a quem que fosse, cara feia, "será que não sabem que as pessoas podem estar atrasadas?!" ela pensou, mesmo que não estivesse.

virou o corpo duzentos e setenta graus, o suficiente para reconhecer o outro a que pertencia a mão que segurava a dela. as roupas eram diferentes, o cavanhaque havia se transformado em vasta barba. o corpo, ah, o mesmo ainda. magro e musculoso, ombros largos e peitoral perfeito. o olho verde escuro, esmeralda suja.

sorrisos, abraços, nenhuma palavra. nervosismo. "você.." começaram ao mesmo tempo, pretendiam dizer um ao outro como estavam bem. era muito, foi muito, eles foram muito. olharam-se por mais algum tempo, ele tomou-lhe o rosto com as mãos, ela virou o rosto, num sorriso envergonhado. "você está ótima, linda.", ela permaneceu em silencio. "te vi andando, tive que falar. já faz tanto tempo..", ela reparava nos olhos de esmeralda suja, parecia imunda, sem qualquer resquício de brilho. e já fazia, tanto tempo. bom tempo, mau tempo. vento ou sol. talvez e provavelmente, foi só por todo esse histórico que ela aceitou o convite dele de ir tomar uma cerveja, conversar um pouco. o sorriso dele, ainda brilhava e as mãos ainda encostavam nas suas com a mesma leveza.

na primeira cerveja, lembraram de como se conheceram, de como os olhos esmeralda se encontram com os castanho-claro normais dela. de como as almas gritaram, dentro de cada um, pedindo para não mais ficarem sós. de como, ainda jovens e perdidos, eles atenderam aos pedidos das almas como se elas fossem rainhas, e juntos, se fizeram servos.

na segunda cerveja, os dois se calaram. pensavam a mesma coisa, sabiam que sim. as noites, as manhãs e as tardinhas em que o peito dele roçava os seios dela, as mãos corriam os corpos e as respirações alcançavam os pescoços. ele levou a mão ao pescoço e lembrou-se de como ela sempre o mordia, ali. ela lembrou-se de como ele sempre dizia 'eu te amo' e sorria.

tentaram conversas casuais, família, notícias, foi quando a quinta, e última, cerveja chegou à mesa e ambos deixaram cair os olhares, concentraram-se nas respectivas mãos. olharam-se tristemente quando veio a mente o fim. o fim deles. as constantes brigas,as inconstantes decisões, o amor violento, querer de mais, querer de menos. seguir em frente, voltar. desistir. eles resolveram, então, por sacrificar um amor errado, doente, meio estrebuchado, como se faz a um animal. sacrificaram e saíram para rua, perderam os telefones, não trocaram cartas. o tempo passaria e levaria consigo o pó.

eles tocaram as pontas dos dedos, os olhos esmeralda-imunda encontraram uns olhos, agora, castanho-escuro. silêncio, as almas não gritaram. veio a mente a viagem deles ao interior, quando longes do mundo, eram inteiros e completos, eram um só animal sadio. ela pôde, novamente, se ver dizendo que estava tão feliz que parecia estar bêbada. não esperava ela que o tempo tivesse passado, os corações endurecido, os olhos escurecido e curado, curado não um, mas dois animais. olhando para frente, alma silenciada. mesmo que perto dele, ela estava apenas..
bêbada.
me olhe, chegue perto, encoste. me sinta, cutuque, verifique se sou real. me beije, me abrace.
me diga: o que posso fazer por você? quer que eu te toque? eu te toco, meu bem.

toco o rosto e me aproximo. invado o seu corpo com os olhos e te sinto fazer o mesmo. te puxo para mim, você agradece, sem saber que fiz por mim, por puro egoísmo. no abraço, nossas almas vadias se encontram e por breves segundos viram uma coisa só, disforme e unitária. quando nossos corpos se separam, elas choram. chegam a encher de lágrimas o vazio dos nossos interiores, as costas cedem e os corações são apertados entre carne e água salgada.

os olhos mostram e mentem. não há conforto. eu não vou voltar e sei disso. você vai voltar, mas ainda não sabe. só saberá quando naquela tarde de sol poente encontrar um alguém com meu sorriso e entrar no primeiro trem que, eventualmente, será o certo para que você perceba que já faz muito tempo, que eu já não estou mais ali e que você, na verdade, só agora sairá.

sábado, 5 de dezembro de 2009

lost inside.

embaixo da cama, na mochila, atrás da televisão, no rodapé. embrenhava-se por cada pequeno compartimento, cada minúsculo cômodo, procurando. procurava mais alguma coisa, como sempre. não prestava atenção quando guardou, não tinha a menor idéia onde agora estava. e então pensou "ah, é só um isqueiro. eu compro outro."

ela ligava para ele, chamava para uma nova boate. ele o ligava e convidava para um jantar. sua mãe o ligou, semanas atrás, para avisar que o velho cachorro da família havia morrido. não atendia os telefonemas, não retornava. deixava as cartas de lado e os recados da secretária eletrônica era apagados sem serem ouvidos. e numa tarde qualquer, quando o sol entrava na janela encontrando a madeira e liberando aquele cheiro de saudade, ele sentiu. pegou o telefone, pensou em algumas pessoas, mas já não sabia seus números. procurou na lista, não achou ninguém. em cima da escrivaninha tinha o telefone da mãe anotado, chamou, chamou, chamou. uma voz estranha atendeu, quando perguntou pela mãe soube apenas que há muito ela havia mudado de casa e telefone. e então pensou "ah, são só pessoas. saio hoje e encontro alguém novo pra conversar."

já era madrugada, um dia normal tinha acontecido. sentiu um aperto grande no coração. levou a mão ao peito, assustou-se. não havia batimento ali. foi mais para direita, nada. mais para a esquerda, nada. onde estava seu coração? apalpou a barriga, os estomago, buscou pulsação na veia do pescoço. partiu pras pernas, pros braços, até os pés. não achava, não estava ali, havia perdido. e então pensou "ah."

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

ouroboros.




era por volta de seis horas, chegava em casa. comia um sanduíche, nada muito pesado, ia ao banho. a água quente corria-lhe os cachos do cabelo não-tão-pequeno e ainda-não-grande. fazia hora no espelho, caretas e sorrisos. vestia a mais confortável das roupas. fazia tudo, enquanto pensava. e, ainda pensando, sentava-se na cadeira e puxava para si a máquina de escrever, e escrevia.

escrevia, pois o coração era grande e a alma curta. curta de um modo que nunca, jamais, caberia a sua vastidão. não chegava a ter um metro e oitenta de corpo, mas o que tinha de pensamentos, sentimentos e, também, dores excedia o corpo, a alma e, por vezes, excedia os limites de um coração gigante, de quem ainda sorri.

havia passado a tarde de trabalho pensando. não, ele não perdeu sequer um ponto de produtividade por isso. um dia, se parasse de pensar, seria a certeza do fim. pensava, pensava, pensava e escrevia. era isso, sempre fora. para ele, era assim. um dia inteiro com pensamentos pela cabeça, chegar em casa e escrever e resolver e encontrar as respostas do problema.

pensava na existência de ciclos. a vida em si, um círculo. muda a frequência, talvez a velocidade. nos maiores, mudam as pessoas. nos menores, mudam os lugares. existem ciclos básicos, gente nascendo-gente morrendo, pessoas indo-pessoas voltando. e existem os ciclos específicos, ele se aproximando-ela se afastando, ele se aproximando-ela se afastando. repetidos inumeras vezes, ao redor do mundo, da existência humana e, por que não dizer, nos dias que passam.

as costas já doíam da posição para alcançar a máquina, os dedos já não respondiam com tamanha rapidez e os erros ortográficos tornaram-se mais constantes. estava como se sentia em todo fim de noite, livre. de todo o peso, de toda a dificuldade intrínseca na mais cíclica coisa que nós, humanos, podemos fazer, sentir.

tirou a folha, dobrou ao meio, colocou na gaveta já quase cheia. ia dormir, amanhã acordaria cedo para trabalhar e pensar. voltaria as seis para casa, comeria alguma coisa, tomaria banho, sempre quente. sentaria na mesma cadeira e puxaria para si a máquina de escrever, escreveria sobre sentimentos, pensamentos e, também, dores. fazendo, assim, do começo o fim. do ciclo.



*ouroboros: a imagem da serpente mordendo a cauda, fechando-se sobre o próprio ciclo, evoca a roda da existência.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Eu queria ver no escuro do mundo
Onde está tudo o que você quer
Pra me transformar no que te agrada
No que me faça ver
Quais são as cores e as coisas
Pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?
Às vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo
Que não me deixa em paz
Quais são as cores e as coisas
Pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?
Às vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo
Que não me deixa em paz
Quais são as cores e as coisas
Pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?