domingo, 27 de setembro de 2009

27.03

seis meses atrás, mais ou menos por esse horário. no outro lado da cidade, acontecia uma coisa assim, linda. era confirmada uma dúvida, uma certeza era formada.. e em seis meses, desse lado da cidade, nada mais acontecia. tudo havia sido despedaçado.
mea culpa, talvez.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

carta para ele.

amor,

escrevo-te esta carta, assim sem mais nem menos, sem razão nem por que. por tudo o que a gente passou e ainda vai passar. os dias escuros, as noites claras. o amor, aquele que tem que ser citado logo no começo, aquele que apertou o "start" e transformou "eu e você", em "a gente".

eu que era simples e singular. quando te encontrei, virei composta e plural. e eu que tanto me incomodava em ser diferente, nem me afetei de ser mais um peixinho nadando com a corrente, mais uma menininha apaixonada que escreve e suspira.

e foi tanto que eu suspirei por ti, ainda suspiro. te vejo pela manhã, cabelo desgrenhado e sorriso preguiçoso, minhas pernas ainda tremem, minhas mãos suam. abraço meu próprio corpo que está com teu cheiro, numa tentativa meio falha de te ter por toda a minha pele. o 'bom dia' com olhos brilhantes me lembra de todos os dias, a voz lenta de quem acaba de acordar lembra me todas as noites. ali, juntinhos no aconchego que só nossos próprios corpos poderiam proporcionar, ali, quando nós somos partes de um todo.

te vejo no nosso lugar, vendo um filme no sofá, sujando a minha cozinha, levando o lixo para fora, jogando videogame. eu que só peço que você me ame, ganho tão mais que isso. as vezes chego a duvidar se é realidade, se eu te tenho mesmo, se vou continuar tendo. que bom que não gasto muito tempo questionando isso. e se gastasse, descobriria um lugar vazio, sem sorrisos, sem olhares, sem amor, aqui.. dentro de mim.

me responde, não me engana dessa vez. em quanto tempo você vai chegar?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

é.

ela arruma a cama, eu continuo deitado no sofá. ela passa por mim, alisa meus cabelos, ajeita o cobertor. pega a chave do carro, da casa. apaga a luz, destranca a porta. ela sai, eu vejo os calcanhares indo. torço pra que ela tenha esquecido alguma coisa, encontro a janela aberta e em um assopro o vento entra, levanta o perfume dela por todos os comodos e leva embora.
comprovando o perfeito metodismo. é, ela não esqueceu nada.

sábado, 5 de setembro de 2009

agradável escuro.

no mesmo túnel iluminado que outrora caminhei, estou. vendo o piscar das luzes que ameaçam se apagar, esperando o passar de carros que não vão chegar. ando no caminho que não tem mais ninguém, nem final.



tudo vazio, luzes amarelas, o espaço é grande, mas a claustrofobia é inerente. a saída existe, eu sei, mas depender de alguém para isso pode torná-la um processo infindável, talvez inexistente.



ainda tenho na memória como tudo acontece. como as luzes se apagam e ali, no fim escuro, aparece uma só luz, um reflexo. viver por essa luz, continuar seguindo, andando, precisando. sentir-se capaz de libertar de si, só para encontrar a luz.



lembro os dias de olhos fechados, as luzes já acesas e a busca pela abertura iluminada que já se fechara. correr e cair. acordar num mesmo lugar de sempre. ter-me, de novo, no mesmo túnel vazio, sozinha e acompanhada por mim.



demorei a aprender a viver no escuro e, agora no claro, as pupilas ainda dilatadas vêm tudo fora de lugar, errado e sem razão.



sem saber bem o que sentir, sinceramente sem entender.. vou indo, indo e indo. sigo no túnel iluminado de sempre, contemplando o vazio, esperando os sons, os carros, as pessoas. esperando e lembrando o agradável escuro.