terça-feira, 25 de maio de 2010

senhor não, meu nome é aldo.

como o nome, ele era pequeno, franzino, quase careca e bonito. pernas finas, corpo bem tratado, ombros consideralvemente largos, toda uma composição que poderia dar errado, mas não. apresentou-se andando sobre a linha tênue entre ser rude e sério, sem perder o charme.

é esotérico, budista, dramaturgo, yogue, inteligentíssimo, simpático, conversador e disperso. esse era o rapaz que estava em minha frente, parecido com um escritor querido e que me encantava em diversas maneiras. dizia idade, ocupação e qualquer outra coisa sem medo, era um livro com capa e conteúdos incríveis, acessíveis.

sorriu como criança enquanto mexia as mãos aleatoriamente, explicando alguma coisa, deixando aparecer uma tatuagem perto dos músculos do braço e anunciou sem medo que há mais do que isso que podemos ver,
estaria ele certo?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

fim de festa.


você já deve ter passado por isso. aquele momento em que seus amigos, ou companheiros, já estão bêbados ou chapados demais, espalhados sem qualquer ordem pelos cantos. bebiba jogada, guimbas de cigarro pelo chão e silêncio.

o barulho de fora afeta a todos, mesmo que estejam, sem qualquer execeção, cada um voltados ao seu interior. é aquele momento em que não se sabe quem é mesmo o dono de quem. pessoas juntas, unidas contra um frio que não existe realmente. carinhos, abraços, beijos, amigos que viram amantes e novas pessoas que viram amor de vida. onde ninguém se olha, ninguém se fala, ninguém se importa, ninguém julga. onde todos são mais um, juntos com mais outros, procurando um calor, de alma, de vida. uma vontade, talvez amor.

e tudo, mesmo que bambo e guenzo, permanece em equilibrio, o silêncio, o vento que atinge, a junção de corpos e todo o resto, toda a busca, tudo calmo absortos na inquietude do fim. alguém se move, os abraços se acabam, os beijos são deixados de lado, até que alguém fala algo assim que não devia ser dito, mas que não se pode deixar de dizer. então, toda a organização sem ordem é desfeita, todos se afastam e se olham, se vêem, se julgam. e dá-se o começo de mais outra festa.

terça-feira, 18 de maio de 2010

abro os olhos e me deparo com a imagem embaçada de seu rosto calmo, sorrindo, para mim.

enquanto me acostumo com a claridade que bate em suas bochechas, deixando-as ainda mais lindas, sorrio de volta, para você. sua mão leve passa pelas minhas costas nuas, me aninho perto de seu colo enquanto você comenta como estou quente e que eu não respondo, ainda é muito cedo para pensar em piadas safadas. acompanho por um tempo as batidas do seu coração, mas minha respiração acelera, me afasto, então, e observo seus olhos, nariz, boca. todos meus. beijo cada um deles. devagar, não há pressa.

seus lábios são lindos, sabia? a forma como você aperta teu corpo contra o meu quando meus lábios percorrem teu pescoço também. queixos, ombros, braços, barrigas e pernas ainda com pequenos dentes desenhados, nosso segredo risonho, nossa maneira animalesca e carinhosa de dizer que nos possuimos e, de fato, o fizemos, o fazemos, o faremos. coloco os fios de cabelo fujões atrás da sua orelha, com o mesmo cuidado de sempre, olho com olho, sorriso com sorriso, então, olhos fechados, lábio com lábio, língua com língua. eu com você, nós, só.

abro os olhos e me deparo com a imagem de um cogumelo verde, sem qualquer expressão, olhando, para mim.

domingo, 16 de maio de 2010

domingo é o dia do juízo final, da semana, para mim e para todos os jovens imediatistas, ensandecidos pelo calor das pessoas e cores do mundo. é quando, entre as dores da ressaca e uma tarde inerte, você finalmente tem, não tempo, mas paciência para pensar do que foram aqueles seis dias anteriores. ou melhor dizendo, o dia anterior.

tudo o que poderia ter sido e não foi, todas as escolhas mal pensadas e ainda assim tomadas. todas as boas escolhas, ótimas, em algumas ocasiões. os corpos, os lugares, tato, olfato, paladar, de uma tarde e noite que parecem que foram feitas para serem aproveitadas. tantos lugares visitados, tantas pessoas, tantos sentidos misturados. um sábado poderia ser tranquilamente uma vida, inteira, em menor escala.

e então, depois de uma dormida justa ou não, acorda-se para outros dias que conspiram na chegada de mais um sábado, mais uma vida e logo, mais um juízo final. e acaba que você nunca sabe, se foi certo ou errado, se valeu ou não a pena, mas não tenha medo, nem se arrependa.. faltam apenas mais seis dias.

domingo, 9 de maio de 2010

eu poderia te inventar.

chegar em casa de um dia cheio e te ligar, falar que foi bom te ver, que você estava linda. posso cheirar minha camisa e sentir teu perfume, como é mesmo o nome dele? sereno? algo assim, como você, algo leve, prestes a ficar intenso.

vou sentar à mesa e te escrever cartas, futuras cinzas, pra dizer o quanto gosto de você. a frustração vai me atingir por não conseguir demonstrar em palavras, em ilustrações ou forma qualquer. com o celular em mãos, vou te ligar mais uma vez, a desculpa? ouvir sua voz. e vai ser sincero, como em todas as outras vezes.

teu jeito vai me acalmar, o falar compassado, o ritmo lento de encaixar as palavras perfeitas nas frases ditas. todo o imediatismo do meu amor imaturo vai se dissipar, porque ali, aqui, com você, eu poderia ficar para sempre. para sempre e mais.

então, levantarei o olhar para tela do computador. um notepad escrito, onde a primeira frase é "eu poderia te inventar" e sem dúvidas saberia que eu poderia sim, inventar você.

é uma pena que você exista, apesar de minhas camisas terem apenas meu perfume, minhas cartas ainda não terem um destinatário e a agenda do meu celular não possuir teu número.

- mas eu sei onde você compra pão.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

queria alguém pra segurar a mão e ficar em silêncio. queria qualquer paz assim, compartilhada e sem necessidade de palavras. queria, sem certeza de um futuro e sem necessidade de um passado, apreciar um presente sóbrio. pode ser você, pode ser alguma outra, a questão é que agora eu quero alguém que me traga, acima de qualquer coisa, tranquilidade.